PERNAMBUCO: VÍTIMA DA PRÓPRIA BELEZA


“Pernambuco é vítima de sua própria beleza”, afirma o geólogo. Por ser uma região onde se concentram algumas das praias mais bonitas do país, a costa pernambucana nos últimos 40 anos , vem sendo objeto de uma intensa especulação imobiliária e expansão urbana desordenada. “Uma das atitudes mais erradas, do ponto de vista geológico, é a concentração de prédios muito próximos à beira-mar”,afirma.

Em Piedade e Candeias, duas praias da Região Metropolitana do Recife, se não forem tomadas providências, em cerca de 30 anos, o mar derruba os edifícios que foram erguidos quase dentro d’água, alguns dos quais já prestes a ter os alicerces comprometidos. “Acontece que as ondas têm uma ação erosiva muito forte. Mas, numa região sem intervenção humana, as areias que vão, são naturalmente substituídas pelas que ficam armazenadas na linha de preamar. As construções erguidas nestas áreas impedem esta reposição, causando um desequilíbrio na costa”, explica o pesquisador.

Outra causa, também ligada à especulação imobiliária, que afeta o equilíbrio natural de uma praia, são os aterros de grandes extensões de mangues. Como sistemas complexos, que só existem em regiões tropicais os mangues propiciam o desenvolvimento de uma fauna e flora anfíbias próprias (são berçários naturais de peixes, crustáceos etc).

Portanto, do ponto de vista biológico-ecológico, são de enorme importância e, por isso, protegidos por lei federal. “Por ser um terreno que tem até 50% de porosidade, funciona como uma grande esponja, protegendo o litoral das marés altas e grandes enchentes. O aterro indiscriminado e ilegal dos mangues destrói mais essa proteção natural”, critica Pedrosa.

Os pesquisadores do LGGM também chamam à atenção para as obras de proteção da costa. Se não precedidas de um estudo minucioso que determine o tipo de construção ideal para aquele trecho que se quer proteger, o empreendimento, além de ineficiente, ainda vai, com certeza, transferir o problema para uma região vizinha.

Em Pernambuco, um exemplo claro disso está no pontal de Maracaípe, uma praia do litoral sul, sem qualquer intervenção humana e que, de repente, começou a ser erodida. Não foi preciso procurar muito para detectar que o problema estava na vizinha Serrambi, com a construção inadequada de espigões (diques artificiais e perpendiculares à praia).

erosão em
Pernambuco A praia do Janga, em Paulista, também é vítima das obras realizadas pela Prefeitura de Olinda, em Bairro Novo e Rio Doce. Segundo os pesquisadores, isso ocorre porque as correntes litorâneas são veículos de transportes de materiais (areia principalmente)

Livres deste material, que fica retido nas proteções artificiais inadequadas, as ondas e correntes litorâneas atingem a região mais próxima com muito mais intensidade. “É como se elas recebessem o choque de uma “jamanta” desgovernada e livre da carga”, compara Pedrosa.


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