A Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias de Informação no Brasil:
onde está, para onde vai.

José Augusto Suruagy Monteiro (suruagy@di.ufpe.br),
Coordenador da Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFPE.

30 de junho de 1996


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Resumo

A finalidade deste documento é o de servir de ponto de partida para uma discussão aprofundada sobre a pós-graduação em Ciências e Tecnologias de Informação no Brasil iniciada com a produção de um diagnóstico sobre a situação das bolsas de formação que envolveu a participação de todos os coordenadores de pós-graduação da área.

Neste documento o autor a partir de sua experiência como coordenador de pós-graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal de Pernambuco desde 1994, e das discussões com colegas da UFPE e de outros programas procura apresentar alguns pontos para discussão apresentando também propostas para muitos dos pontos levantados. As propostas apresentadas em relação a currículos e estrutura dos programas não se encontram necessariamente implementadas nos programas da UFPE tendo em vista que nos encontramos atualmente numa fase de modificação do regimento interno do curso, e vários dos pontos apresentados ainda nem mesmo chegaram a ser discutidos pelo colegiado.

Introdução

A pós-graduação brasileira forma hoje 2500 doutores por ano em todas as áreas do conhecimento. Há 1700 cursos de pós-graduação, dos quais 700 são nível A e 4000 bolsistas no exterior.

A área de Informática, ou mais geralmente a de Ciência e Tecnologias de Informação, vem experimentando um grande crescimento nos últimos anos em todos os aspectos, tanto do ponto de vista da fabricação e do mercado de computadores no país quanto da demanda por pessoal altamente qualificado tanto para o desenvolvimento de aplicações e projeto de sistemas como na área acadêmica, para manutenção e melhoria da qualidade dos programas de graduação e pós-graduação em todo o país.

Segundo dados do MEC, existem mais de 200 programas de graduação em Informática, Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia da Computação. Há dezenas de programas de extensão e especialização e há mais de 20 programas de pós-graduação strictu sensu com funcionamento já autorizado pela CAPES/MEC.

Nos últimos anos, o estabelecimento de uma política nacional de Informática através da Lei 8248 aumentou o investimento federal nas universidades e centros de pesquisa, através do CNPq, Finep e indústria de informática e programas estratégicos como a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), o Programa Nacional de Software para Exportação (SoftEx 2000) e o Programa Temático Multiinstitucional em Ciência da Computação (ProTeM-CC). Pelo menos 18 milhões de dólares (dados do CNPq/ProTeM) foram investidos em pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura, somente pelo ProTeM, no período de 1990 a 1995 nos centros de ensino e pesquisa em Informática em todo o Brasil.

Do ponto de vista do pessoal docente, de apenas 400 mestres e doutores em atividade em 1986 (e apenas 200 doutores em 1990) passamos a cerca de 670 doutores (atuantes em Universidades) em 1995 (dados do ProTeM/CNPq), estando apenas cerca de 365 envolvidos diretamente com os programas de Pós-Graduação. A previsão é a de que o número de doutores envolvidos com os programas de pós-graduação continue a crescer, atingindo o número de 560 em 1998.

A pós-graduação deve ser vista dentro de um contexto de agente ativo no processo de desenvolvimento sustentado do país. Portanto, as pesquisas devem visar direta ou indiretamente este fim.

O grande desafio com o qual se defronta a pós-graduação é como crescer de modo a atender à demanda social mantendo e até melhorando a sua qualidade.

Nas seções seguintes serão apresentado diversos pontos a serem discutidos relativos à pós-graduação strictu sensu no País na área de Ciências e Tecnologia da Informação. Esperamos que a partir da discussão destes tópicos e de outros que sejam acrescentados ao longo da discussão anteriormente, durante e após o XXVI SECOMU possamos ter uma visão mais completa do status da pós-graduação na área e para onde queremos nos dirigir.

Iniciamos com uma revisão de quais são os objetivos do ensino de pós-graduação. Propomos então que seja iniciado um processo de obtenção de qualidade total neste sistema, do qual o processo de avaliação constitui-se num dos instrumentos fundamentais. A seguir, iniciamos a analisar como podemos obter esta qualidade total a partir dos nossos clientes, ou seja, os alunos. Segue-se uma discussão sobre a formação básica e a estruturação dos programas de mestrado e de doutorado. Discutimos também aspectos gerais sobre a pesquisa que deve ser feita. Segue-se uma apresentação do crescimento do número de professores doutores no sistema e a escassez de bolsas de pesquisa que apesar de seu crescimento tem ficado aquém das necessidades. A situação das bolsas de formação é semelhante. O número de bolsas de mestrado tem praticamente permanecido constante apesar do crescimento do número de programas enquanto que o número de bolsas de doutorado tem crescido mas ainda há muito por ser feito. Finalmente, discute-se a questão da substituição da exportação de alunos de doutorado para os programas nacionais, a questão da produção de teses em inglês e o papel da cooperação internacional. Este documento é finalizado com algumas considerações finais sem nenhuma pretensão de apresentar conclusões. Estas serão obtidas a partir das discussões que esperamos sejam bastante profícuas durante o XXVI SECOMU.

Objetivos do ensino de pós-graduação

Antes de apresentarmos qualquer proposta em relação ao ensino de pós-graduação é preciso identificarmos quais são os objetivos que pretendemos atingir, quem queremos formar, para que e em que quantidade?

Um bom percentual dos alunos de mestrado e sobretudo de doutorado estão ou estarão envolvidos com atividades de ensino seja de graduação que de pós-graduação.

Atualmente os alunos ao concluírem o mestrado vão trabalhar ou criam suas próprias empresas de prestação de serviços ou desenvolvimento de software. Outros se envolvem com os projetos dos programas estratégicos.

No entanto, para que a área possa vir a ter um impacto social de porte, é preciso que o número de titulados aumente significativamente, saindo dos atuais 30 doutores e 260 mestres por ano para números pelo menos três vezes maiores.

Qualidade Total

Hoje está bastante em voga a preocupação com a qualidade em todo o processo produtivo e de serviços. Devemos trabalhar para melhorar a qualidade também do ensino pós-graduado em seus vários aspectos. Isto é, o crescimento apontado na seção anterior deve ser atingido mantendo e até mesmo melhorando a qualidade de nossa formação e de nossa pesquisa.

É preciso, portanto, agir para melhorar as condições de ensino seja dos programas já consolidados que dos novos programas. Para isto deve-se investir, como veremos adiante, desde o ensino da graduação até a atualização periódica dos docentes.

Na graduação a melhoria viria com a definição e implantação de currículos de referência, implantação de exame de seleção nacional como instrumentos de estímulo, e fortalecimento dos cursos com a contribuição de recém-doutores e capacitação dos docentes.

Na pós-graduação é preciso encurtar o período de mestrado e apoiar os programas de doutorado para que não sejam cursos de segunda classe a nível mundial criando-se mecanismos que nos façam superar a barreira da distância dos eventos mais importantes e que incentive a submissão de trabalhos a conferências e revistas de primeira linha.

Finalmente, é preciso dar condições e incentivar que os docentes destes cursos mantenham-se sempre atualizados, inclusive através de períodos sabáticos em outras instituições no país ou no exterior quando livres de atividades de ensino e administrativas, poderiam se dedicar a atualizar seus conhecimentos, escrever livros, artigos, etc.

O Processo de Avaliação

O processo de avaliação da pós-graduação executado pela CAPES deve ser um instrumento importante para que se atinja este objetivo de qualidade total. Ele pode servir como um diagnóstico da situação dos diversos programas de modo a balizar as ações futuras. É preciso levar em consideração as peculiaridades da área não como corporativismo mas como reconhecimento de etapas alcançadas que esperamos sejam continuamente avançadas.

É importante que este retrato da área a partir da visão privilegiada dos avaliadores da CAPES seja apresentada e discutida com a comunidade tanto para que cada programa se posicione dentro do panorama nacional quanto para que sejam propostas ações por parte das agências de fomento que visem a corrigir eventuais problemas e/ou deficiências.

É preciso também que esta avaliação seja feita em sintonia com as metas estabelecidas pela comunidade e pela sociedade de modo a valorizar apropriadamente seja um artigo que um produto de sucesso.

Os Alunos

Os alunos que se inscrevem para seleção nos programas de pós-graduação em Ciência da Computação são sobretudo os graduados em Ciências da Computação, Engenharia da Computação, Engenharia Eletrônica e Matemática.

Portanto, se quisermos melhorar a qualidade do material humano que recebemos é preciso investir no ensino de graduação como um todo sobretudo na área principal de influência do programa.

A situação do ensino de graduação é o tema de um outro seminário durante o SECOMU. Aqui gostaríamos de tocar apenas alguns pontos relativos à integração da graduação com a pós-graduação.

Se quisermos aumentar a qualidade dos formados na graduação é essencial que os professores estejam capacitados adequadamente com no mínimo um curso de mestrado e sempre que possível também com doutorado. Em instituições que possuam seja a graduação que a pós é importantíssima a participação dos professores doutores tanto no ensino de graduação como no de pós. Todas as instituições deveriam investir numa política agressiva de qualificação docente, inclusive através da utilização do mecanismo de mestrados interinstitucionais.

A definição e a implantação de um currículo de referência para a graduação viria resolver um grande problema que é o da heterogeneidade dos alunos que chegam às pós-graduações. Cada um chega com uma formação completamente distinta, algumas vezes com currículos desatualizados ou cursos ministrados por pessoal despreparado. Portanto, a adoção de um currículo de referência juntamente com a produção de livros texto correspondentes e a capacitação docente viria minimizar este problema da demasiada heterogeneidade dos alunos que entram nos cursos de pós-graduação.

Seria também muito interessante a criação de um exame de seleção/avaliação nacional, o assim chamado "GRE nacional". Este exame tanto poderia ser um exame obrigatório de fim de curso como um exame obrigatório apenas para quem pretende entrar num curso de pós-graduação. Se estivermos interessados em atingir a qualidade total também na graduação este seria um instrumento de avaliação do curso através da média obtida por seus alunos, da mesma forma que cursinhos pré-vestibulares se beneficiam da aprovação de seus alunos. Naturalmente a resistência a avaliações deste tipo podem ser motivadas por um temor de que haja algum tipo de punição aos cursos cujos alunos não atingirem uma certa média. Para a pós-graduação como um todo a vantagem seria a possibilidade de demonstrar que o aumento do número de programas e de vagas está sendo efetuado sem prejuízo da qualidade. A própria existência do exame faria com que alunos com deficiência em certas áreas, estudem antecipadamente para superá-las engajando-se portanto num nivelamento preventivo.

Certamente um dos mecanismos que incentivam o envolvimento dos alunos de graduação com atividades de pesquisa são as bolsas de Iniciação Científica (IC). Os bolsistas de IC são candidatos naturais para a pós, e a evolução de seus trabalhos podem permitir uma conclusão rápida do mestrado. O programa institucional de bolsas de iniciação científica (PIBIC) do CNPq se por um lado incentiva as atividades de pesquisa numa instituição em áreas que tradicionalmente não contavam com estas bolsas, por outro reduz o número de bolsas disponíveis para as áreas que as utilizavam em maior número.

A Formação

Qual a formação que deve ser dada nos nossos cursos de pós-graduação? Por um lado é preciso garantir um mínimo de conhecimento básico geral da área e não apenas da subárea específica a que o aluno pretende se dedicar. Por outro lado, há uma pressão sobretudo dos órgãos de fomento para que se reduza o tempo médio de titulação do mestrado para dois anos e do doutorado para quatro anos, havendo inclusive a proposta de que o bolsista tenha no máximo quatro anos de bolsa aí incluídos tanto o período de mestrado quanto o de doutorado. Para que esta redução seja obtida é necessário reduzir o número de créditos exigidos e concentrar a formação em assuntos que sejam aproveitados diretamente no trabalho de pesquisa.

Formação Básica

Assumindo que todos os alunos venham de cursos de graduação em áreas afins à computação, a formação básica deles deveria estar garantida com o amadurecimento adquirido nestes cursos. Bastaria portanto cuidar da formação que é ministrada na graduação como tratado anteriormente e usar critérios de seleção e de verificação de conhecimento que assegurem que esta base comum foi de fato adquirida.

Uma questão a ser definida é justamente o que se entende por formação básica. Isto é, o que é exatamente que alguém formado numa pós-graduação em ciência da computação não pode deixar de saber? Nesta lista normalmente se encontram disciplinas tais como: Algoritmos e Complexidade, Noções básicas de Lógica, Organização de Computadores e Paradigmas de Linguagens de Programação. A lista é esta mesmo? O que mais deveria ser incluído ou retirado? Alguém pode sair sem saber um mínimo de Redes de Computadores e de Banco de Dados, por exemplo?

O que fazer nos casos em que haja deficiências na formação básica? Além do nivelamento preventivo realizado pelos próprios candidatos ao se prepararem para o processo de seleção utilizando a bibliografia sugerida, seria interessante a realização de um período de adaptação de pelo menos quinze dias. Neste período os novos alunos se familiarizariam com a infra-estrutura local e com as ferramentas básicas que deverão utilizar durante o seu curso e poderiam assistir a cursos de revisão de acordo com suas necessidades.

Na familiarização com a infra-estrutura local teriam acesso à biblioteca e seriam solicitados a fazer alguma consulta básica seja aos periódicos disponíveis na mesma que a consultas através da Web. Nas ferramentas básicas podemos incluir a familiarização com o sistema operacional dos recursos computacionais disponíveis (notadamente do tipo UNIX) e ferramentas de edição, formatação de textos, base de dados bibliográficos, compilação de linguagens (em particular C), folheadores, correio eletrônico, news, etc. Certamente a tendência é que todos os alunos já cheguem com este conhecimento sobretudo aqueles que se formaram na própria instituição, mas esta medida colocaria todos os alunos em condições de igualdade.

Apesar da existência de cursos de revisão, certamente para alguns a única opção é a de que realmente façam cursos completos naquela dada disciplina na qual têm deficiência, como nivelamento seja na graduação que em cursos de extensão.

O Mestrado

Sugere-se que o mestrado seja realizado num período máximo de dois anos com a realização de uma carga de 360 horas de disciplinas no primeiro ano e a realização da pesquisa e a produção da dissertação no segundo ano.

Dado à exigüidade do tempo é quase essencial que os alunos comecem desde o início do curso com uma noção clara de qual a subárea a que pretendem se dedicar. Quais as medidas que podemos tomar para que isto seja viável? Antes de mais nada com a divulgação através de livretos e de home-pages com as linhas de pesquisa de cada programa, trabalhos realizados, projetos em andamento, estrutura do curso, etc. Os candidatos ao se inscreverem para a seleção deveriam ser solicitados a fazer uma opção por uma das subáreas. A finalidade seria sobretudo a de forçar que eles leiam o material disponível e comecem a pensar no assunto. Durante a seleção (nos programas em que se fazem entrevistas) mas sobretudo no período de adaptação sugerido anteriormente, cada uma das subáreas deveriam ser apresentadas aos alunos com a oportunidade de orientação individual. Deste modo, durante a matrícula o aluno poderá fazer uma escolha mais consciente da subárea em que pretende desenvolver o seu trabalho.

No primeiro semestre/trimestre do curso deveriam ser ofertadas disciplinas introdutórias de cada uma das linhas de pesquisa. Os programas destas disciplinas deveriam além de fazer uma revisão dos conceitos básicos, expor os alunos ao estado-da-arte da subárea correspondente apresentando como se integram as demais disciplinas da subárea e os projetos de pesquisa em andamento do grupo. Além destas disciplinas introdutórias deveriam ser também ofertadas disciplinas básicas que serviriam para complementar a formação obtida na graduação.

Ao final do primeiro ano os alunos deveriam definir o seu plano de trabalho para a pesquisa a ser realizada. O desempenho global do aluno incluindo a aprovação deste plano e das disciplinas cursadas deveria ser levado em consideração para a renovação das bolsas de estudo.

Uma dissertação de mestrado deve basicamente reportar o estado-da-arte do tema proposto, a motivação para o estudo feito, o trabalho propriamente realizado e indicações para trabalhos futuros.

O Doutorado

Os aspectos principais que devem ser observados para a concessão do título de doutor a um aluno devem ser basicamente a originalidade e complexidade do trabalho realizado assim como a independência do aluno em obter estes resultados.

Tipicamente os alunos entram no doutorado após realizarem o mestrado na mesma área ou em área afim. Portanto, em princípio, a questão da formação básica deveria estar garantida havendo no máximo a necessidade de comprová-la através de algum exame sobretudo para aqueles que não tenham feito mestrado em ciência da computação. Uma opção seria a realização de um exame de qualificação em computação versando sobre o assunto das disciplinas de formação básica mencionadas anteriormente. Os doutorandos poderiam se preparar para este exame, revendo o assunto estudado anteriormente ou inscrevendo-se nas respectivas disciplinas. Deveria ser considerada a dispensa do exame mediante a aprovação com conceito máximo nestas disciplinas.

Alunos de mestrado que ao final do primeiro ano cumpram o requisito do exame de qualificação (através da aprovação com conceito máximo nas disciplinas ou aprovação no exame propriamente dito) e apresentem um plano de trabalho viável para eles que vá além de um simples trabalho de mestrado poderiam ser transferidos diretamente para o programa de doutorado.

Além do requisito de conhecimento geral da área é necessário que o aluno demonstre conhecer satisfatoriamente a própria subárea de pesquisa. Isto poderia ser realizado através de um exame específico mesmo para as subáreas já incluídas no exame de qualificação geral, dado que deveria ser exigido um maior grau de profundidade. Mais uma vez, este requisito poderia ser cumprido através da aprovação com conceito máximo num conjunto proposto de disciplinas da subárea específica.

Portanto, embora não seja necessária a exigência de uma certa carga de disciplinas, estas poderiam ser cursadas para cumprimento dos requisitos de qualificação geral e específico. O prazo desejável para o cumprimento destes requisitos seria até o final do primeiro ano.

No estágio seguinte o aluno deve trabalhar na sua proposta de tese. Nesta proposta o aluno deve não apenas reportar o estado-da-arte do tema proposto, como sobretudo a motivação para o estudo a ser feito, a abordagem preliminar a ser utilizada, a sua originalidade e porque acredita que esta abordagem levará a um resultado digno de uma teses de doutorado. Esta proposta deveria ser defendida perante uma banca constituída por um subconjunto da banca de defesa de doutorado que deverá avaliar o conhecimento que o aluno possui da subárea, a motivação e originalidade da proposta, se a abordagem adequada é a mais apropriada e sobretudo se o aluno tem condições de realizá-la. A banca pode também fazer sugestões de outras abordagens ou de redirecionamento do trabalho. A finalidade deste exame seria o de garantir que o aluno não perderá tempo trabalhando num tema/abordagem sem futuro.

É recomendável que parte do trabalho de pesquisa seja realizado numa outra instituição com maior experiência na área no país ou no exterior.

Finalmente, sugerimos que antes da defesa de tese propriamente dita, o texto final seja enviado à banca que terá um prazo máximo de dois meses para emitir o seu parecer sobre o trabalho realizado, sugerir modificações, extensões, etc. A defesa propriamente dita só seria marcada após a aprovação de pelo menos quatro dos cinco membros da banca. Naturalmente este processo pode envolver uma série de entendimentos com o membro que sugeriu as modificações até que suas exigências sejam cumpridas de modo satisfatório.

Pesquisa

Quando se fala de pesquisa, surge aqui a velha questão de para quem estamos produzindo a nossa ciência. Não podemos nos isolar do mundo externo e portanto devemos acompanhar o estado-da-arte da pesquisa mundial, até porque precisamos colaborar para que os nossos produtos, em particular os da área de computação, tenham competitividade no mercado internacional. Por outro lado, é preciso que utilizemos o conhecimento adquirido e dirijamos as nossas pesquisas a temas que venham assegurar o desenvolvimento sustentado do país. Daí a importância da definição de programas prioritários em áreas estratégicas com a utilização de chamadas de propostas que tenham um efeito a médio e longo prazos na economia nacional e que sejam do interesse seja do governo (na geração de novos empregos) que da indústria.

Claro que não pode ser abandonada a pesquisa básica, dado que seus resultados são de mais longo prazo e o conhecimento adquirido é de importância vital para a formação completa de nossos profissionais pós-graduados.

Pesquisadores

Do ponto de vista do pessoal docente, de apenas 400 mestres e doutores em atividade em 1986 (e apenas 200 doutores em 1990) passamos a cerca de 670 doutores (atuantes em Universidades) em 1995 (dados do ProTeM/CNPq), estando apenas cerca de 365 envolvidos diretamente com os programas de Pós-Graduação.

Se compararmos o crescimento relativo do número de bolsas de pesquisa da área de Ciência da Computação (CC) com o de outras áreas tais como Física (FA), Matemática (MA), Genética (GE) e Ciências Sociais (CS), vide figura a, observamos que a Ciência da Computação é uma área ainda em expansão.



Figura A: Evolução Relativa do Número de Bolsas de Pesquisa para Algumas Áreas

Conforme pode ser observado no gráfico da figura b, a previsão é a de que o número de doutores envolvidos com os programas de pós-graduação continue a crescer, atingindo o número de 560 em 1998. Em alguns programas o número de doutores envolvidos com a pós-graduação só não é maior devido à escassez de bolsas de mestrado e/ou doutorado, enquanto que outros encontram-se em Universidades onde ainda não foram estabelecidos programas de pós-graduação.




Figura B: Evolução do Número de Docentes Envolvidos com a Pós-Graduação.


Bolsas

Apesar do crescimento do número de programas e da oferta de vagas, podemos observar que o número total de bolsas de mestrado (figura c) incluindo aí as bolsas do CNPq, CAPES (tanto demanda social - DS- quanto PICDT), Fundações estaduais (FAPs) e Programa PEC-PG, tem permanecido basicamente estável. Podemos observar também que em 1996 o número total de bolsas de mestrado é de 621, enquanto que o número de professores doutores são 458, o que dá uma média de apenas 1,36 bolsas por orientador, quando o ideal seriam 4 bolsas (2 alunos no primeiro ano e 2 no segundo ano de mestrado).



Figura C: Evolução do Número de Bolsas de Mestrado



Figura D: Evolução do Número de Bolsas e de Titulados nos Programas de Mestrado

Mesmo considerando a famosa relação B/T, podemos ver na figura d que globalmente ela corresponde ao tempo médio de titulação na área que é de 2,5 anos.

Em relação ao doutorado, a evolução do número total de bolsas (figura e) incluindo aí as bolsas do CNPq, CAPES (tanto demanda social - DS- quanto PICDT) e Programa PEC-PG, podemos observar que apesar do crescimento apresentado nos últimos anos, em 1996 o número total de bolsas de doutorado é de 166, enquanto que o número de professores orientadores dos programas de doutorado é de 157, o que dá uma média de apenas 1,06 bolsas por orientador, quando o ideal seriam 4 bolsas (1 aluno para cada um dos 4 anos de doutorado).



Figura E: Evolução do Número de Bolsas de Doutorado

Considerando a famosa relação B/T, podemos observar na figura f que o número de titulados tende a acompanhar o crescimento do número de bolsas mas com uma certa defasagem, o que é razoavel se considerarmos que o tempo de titulação esperado para o doutorado encontra-se em torno de 4 anos. Deste modo, o número de bolsas de 1991, 96, dividido pelo número de titulados em 1995, 30, dá uma relação B/T de 3,2.



Figura F: Evolução do Número de Bolsas e de Titulados nos Programas de Doutorado

Com um sistema de bolsas praticamente estrangulado, é preciso buscar outras formas de financiamento tais como bolsas concedidas por empresas para pesquisa em áreas de seu interesse e/ou pelo desempenho do aluno, ou através de recursos obtidos a partir de atividades de extensão.

Alunos aceitos sem bolsas, em tempo parcial, teria o efeito indesejável do aumento do tempo médio de titulação, a menos que fossem liberados por suas empresas de origem.

Doutorados no País e no Exterior

Este deveria ser um processo gradativo de "substituição de importações". Isto é, à medida em que os nossos programas de doutorado vão se consolidando é preciso incentivar a permanência dos nossos melhores alunos nos mesmos para incentivar a qualidade ao invés de mandá-los "de presente" para as instituições estrangeiras. Por outro lado, é imprescindível garantir a estes alunos as mesmas condições que eles desfrutariam se estivessem em instituições estrangeiras caso contrário teremos uma perda de qualidade global do sistema.

Quais são basicamente as facilidades encontradas no exterior? Eu mencionaria as seguintes como as mais importantes:

Em resumo, se quisermos realmente formar a grande maioria de nossos doutores, é preciso investir pesadamente em ações que visem quebrar a barreira da distância geográfica que nos separa destes grandes centros. Parte desta barreira pode ser quebrada através do investimento em atualização do acervo das bibliotecas, atualização dos laboratórios e redes de comunicação de alta velocidade. É preciso também incentivar maciçamente a submissão de artigos em conferências e workshops internacionais, e assegurar recursos para que os autores (seja docentes que discentes) possam participar e apresentar os seus trabalhos. Para pesquisas mais aplicadas é preciso também incentivar a participação em fóruns de discussão internacionais onde hoje estão sendo definidos a totalidade dos padrões da indústria.

A adoção de acordos de cooperação internacional viriam facilitar o intercâmbio de pesquisadores, pós-doutoramentos (atualização periódica dos docentes), bolsas sanduíche para os doutores em formação no país de modo a assegurar a qualidade da pesquisa e da formação pós-graduada.

Produção das Teses em Inglês

Para facilitar a divulgação dos resultados da pesquisa desenvolvida aqui no país e assim garantir uma efetiva inserção de nossa pós-graduação no circuito mundial seria desejável que as teses fossem escritas em inglês. Deste modo a interação com grupos no exterior durante o período da bolsa sanduíche assim como a possibilidade de co-orientações ou participação de examinadores estrangeiros nas bancas seriam facilitados.

Para evitar que os resultados da tese estejam disponíveis apenas em inglês, sugere-se a inclusão na mesma de um resumo estendido em português. A argumentação de que um trabalho produzido no país e custeado por recursos públicos tenham que ser escritos na língua pátria para que possa beneficiar nossos concidadões é falaciosa na medida em que as pessoas treinadas que devem fazer uso deste conhecimento sem dúvida alguma saberão ler em inglês. Uma preocupação seria a qualidade do texto em inglês. É preciso uma revisão bem feita para não cair no ridículo.

Portanto, embora não deva ser obrigatório, acreditamos que seja recomendável a produção das teses em inglês.

Cooperação Internacional

Acordos de cooperação internacional facilitariam o intercâmbio de pesquisadores, bolsas sanduíche para os doutores em formação no país de modo a justamente assegurar a qualidade da pesquisa e da formação pós-graduada.

Deste modo é essencial a assinatura de convênios entre a CAPES e o CNPq com órgãos congêneres nos principais países do mundo que facilitem a interação com instituições destes países, assim como convênios com laboratórios específicos para permitir um rodízio constante de alunos e pesquisadores nestes centros.

Considerações Finais

Neste documento foram apresentados diversos pontos referentes à pós-graduaçao em ciências e tecnologia da informação que esperamos seja o ponto de partida para uma discussão mais aprofundada do assunto.

A meta é melhorarmos a qualidade apesar da demanda por uma maior quantidade de formandos para atender às necessidades de programas estratégicos e para que seja possível efetivamente uma mudança no estado das tecnologias de informação no país.

A solução de diversos pontos apresentados requerem ações específicas a serem empreendidas por todos os agentes envolvidos. Portanto, após uma correção, inclusão e remoção de alguns dos itens propostos é necessário um maior detalhamento do encaminhamento a ser dado. Então, mãos à obra!