ENTREVISTA


A entrevista MUNDI (86KB)
Por que Baile Perfumado, qual a função dos bailes perfumados na trama?

Paulo Caldas
Baile Perfumado, primeiro, é um título para filme de cangaço curioso. A gente acha que este vai ser um elemento para chamar a atenção para o filme, em primeiro lugar. Em segundo lugar, esse nome vem de que os cangaceiros nesta época gostavam muito de fazer festas, de ouvir música, dançar, eles aceitavam a presença de mulheres no bando. Então era comum ter bailes e eles gostavam muito de se perfumar também. Era uma das manias. Lampião inclusive usava perfume francês. Então, juntando estas duas coisas e um outro sentido da palavra “baile” para eles, que a gente descobriu durante a pesquisa; que é “combate”, “refrega”... “Vai ter um baile lá na serra tal”, isso era uma gíria de combate. E isso vem a calhar também com o nome.

MUNDI
Por que filmar a história de Benjamin Abrahão?

Lírio Ferreira
Primeiro porque a história dele é altamente cinematográfica. Uma pessoa que conviveu com os dois maiores mitos deste século para os Nordestinos: Padre Cícero e Lampião... E não só por isso, mas pela maneira de como ele chegou a estas pessoas, é uma história muito interessante. E tem aspectos que conta principalmente a chegada da modernidade no Sertão - que é um tema que a gente aborda muito no filme, e por conta de ser cinema que fala de cinema e que envolve pessoas e mitos dessa época. Eu acho que este argumento todo, sintetizando a vida de Benjamin Abrahão, é um história altamente cinematográfica.

MUNDI
O que Benjamin Abrahão simbolizou para o cinema e, no contraponto, o que vocês estão simbolizando agora para o cinema nacional?

Lírio Ferreira
O que ele simbolizou é que, além de ser uma pessoa pioneira, de ter filmado a única verdade que existe sobre Lampião, é também uma odisséia estar se filmando no Brasil hoje, apesar de ter se melhorado muito de um ano para cá, como deve ter sido a odisséia de Benjamin Abrahão passar dois anos correndo atrás de Lampião até concretizar as filmagens. Mas eu acho que é isso, o sonho que ele tinha naquela época é o mesmo sonho que a gente tem hoje de fazer o filme. Espero que a gente tenha um pouquinho mais de sorte.

MUNDI
Como foi produzir o Baile Perfumado do ponto de vista financeiro, como foi e como está sendo vender o filme?

Germano Filho
Ainda está sendo. Ainda é necessário levantar uma soma de recursos para finalizar o filme. A dificuldade na fase inicial para levantar recursos foi grande, porque é um projeto grande. Os empresários da região não têm esta tradição de investir no marketing cultural, investir no cinema, até porque há 18 anos que não se fazia um filme em Pernambuco. E a nível nacional o cinema também estava praticamente parado, depois da era Collor, que fechou os mecanismos de produção. Então o cinema estava realmente desacreditado. Hoje, a gente vive um momento de retomada do Cinema. São 40 produções a nível nacional. Então existe um clima crescente que favorece novas produções e favorece inclusive a finalização do Baile Perfumado. Agora, o contexto econômico-financeiro do país, que é extremamente instável. Por mais que a gente esteja hoje com uma moeda estável, mas a economia não está estável. Então a gente teve nesse segundo semestre uma dificuldade de captação de recursos muitíssimo maior do que no primeiro semestre. A gente estava até avaliando, talvez a gente não conseguiu levantar 10% do que conseguimos em um semestre. Então esse contexto político-econômico, das políticas culturais, também dificulta muito levantar recursos para cinema e outras produções culturais a nível nacional.

A entrevista MUNDI
Como o empresariado em geral vê o investimento “cinema?

Germano Filho
O marketing cultural está com uma tendência crescente tanto no mundo como no Brasil, ou seja, os empresários começam a perceber que investir numa peça de teatro, investir num filme traz um retorno institucional por mais que não traga um retorno de venda direta de produto, mas traz retorno em relação à marca dele. Aproxima a marca dele da comunidade, de coisas que estão no imaginário da comunidade. Isso é importante para o empresariado e eles já começam a perceber.

MUNDI
Como é filmar a história de um mito tão amado e odiado?

Paulo Caldas
De uma certa forma, para os nordestinos, para os brasileiros, cada um tem um lampião dentro da cabeça, uma imagem de como é o seu lampião. O que eu acho que o filme recupera são aquelas imagens reais e únicas de Lampião mesmo. Então eu acho que isso é importante, que é colocado no filme dessa forma. Agora é impossível fazer infinitos filmes para atender a todos os espectadores que tem idéias e viagens de como é o seu Lampião. O Lampião da gente eu acho que é assim um Lampião bandido como profissional. É um Lampião feito de gente, de carne, cabeça, inteligência. O que a gente quer com esta história de Lampião é desmistificar um pouco. Porque a promoção dos mitos de uma forma gratuita e sem uma interpretação de porque eles estão ali é ruim até para a formação cultural. É também mais uma maneira de se discutir a formação cultural da gente, a história da cultura da gente, que é ou que eu acho que os brasileiros estão atrás nesse momento. O que o público está atrás é de se ver na tela. Acho que todo nordestino tem um pouco de Lampião, e todo brasileiro também, então é bom ver na tela um Lampião. Uma coisa legal desse Lampião que eu queria chamar à atenção é a interpretação do Luís Carlos Vasconcelos, que é um ator paraibano e que fez um trabalho brilhante em cima de Lampião e eu acho que vai impressionar muito.

MUNDI
Benjamin Abrahão teve uma série de dificuldades para filmar a história de Lampião. Por sua vez vocês também enfretaram várias dificuldades para filmar sua história. É possível traçar um paralelo?

Paulo Caldas
Veja bem, o Benjamin Abrahão gostava muito de dinheiro. O fato dele ter feito estas imagens, o fato de existir estas imagens se deve a ele. Isso é de total importância para a cultura brasileira, para a história do país, para o povo, para todos nós, a existência dessas imagens que ele fez. Agora quando ele tava fazendo estas imagens, o intuito principal dele era ganhar dinheiro. Ele era um comerciante, tinha uma formação de mascate, uma formação árabe, ele era libanês, então o que tem muito forte nele é esse sentido mercantilista mesmo. Não como um cineasta pioneiro. Ele não era um teórico, um pesquisador da linguagem cinematográfica. Apesar de no filme ter feito coisas muito interessantes. Ter apresentado soluções como a câmera na mão - que era uma solução pouquíssimo usual na época e que, pela própria mobilidade dos cangaceiros na caatinga, ele viu que não dava pra filmar com tripé, parado como filmava nas cidades e botou a câmera na mão.Tem coisas intuitivas nele, mas isso não pode ser levado como o talento dele como cineasta ou como fotógrafo. A gente pode assegurar a importância dele ter registrado esse material. Agora, a gente não tem o mesmo sentido que ele. A gente espera conseguir o que ele não conseguiu, que é terminar o filme e consiga o que ele também não conseguiu - que é ganhar algum dinheiro. Não é exatamente como Benjamin Abrahão pensava, mas é um filme comercial, que narra a aventura dele.

MUNDI
Obrigado.


FICHA TÉCNICA
FOTO-LEGENDA
VOLTAR