O desenvolvimento sustentável é uma possibilidade condicionada pelas circunstâncias históricas concretas do Estado de Pernambuco, seus problemas e potencialidades e pelas condições do contexto de transformações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas que se operam no ambiente mundial e afetam o Brasil. A compreensão abrangente e aprofundada das condições e das perspectivas futuras de Pernambuco constitui a base para a definição da estratégia de desenvolvimento sustentável.
Como parte de um amplo processo de transformações sócio-econômicas implementadas no Brasil, nas últimas décadas, Pernambuco registrou importantes mudanças no seu perfil econômico e na sua organização e relações sociais . Tais alterações repercutiram de diferentes formas sobre o meio ambiente e o espaço estadual.
A economia pernambucana cresceu, diversificou-se e modernizou-se, com diversos ritmos - acompanhando e integrando-se à dinâmica nacional, ao mesmo tempo em que se aprofundaram as desigualdades sociais, conservando índices elevados de pobreza. Mais recentemente, atravessando um período de lento crescimento econômico, acentuaram-se os problemas sociais e a pressão antrópica decorrente da situação de pobreza de amplos segmentos populacionais.
A degradação do ambiente natural e, sobretudo, o elevado nível de exclusão social constituem a clara expressão da natureza insustentável do modelo de crescimento econômico implementado em Pernambuco. Tanto assim que o Estado apresenta, atualmente, altos índices de pobreza e marginalidade (com grande desigualdade social).
No geral, predominam baixos níveis de acesso aos serviços sociais essenciais, como os da educação, saúde e saneamento básico. A fratura social que separa cada vez mais o segmento mais rico e a maioria excluída é uma marca insustentável do quadro atual do Estado. Esta fratura está na base da violência, (principal "causa mortis" da população jovem), diante da qual o Poder Público não consegue proteger os cidadãos, gerando o medo e o descrédito no Aparelho Policial.
A prepotência das elites e submissão dos excluídos, ainda são marcas da cultura da sociedade pernambucana. Uma sociedade que, tem demonstrado grande capacidade de organização e luta.
Por outro lado, apesar da lentidão do crescimento econômico mais recente, Pernambuco registra sinais de degradação ambiental, especialmente o desmatamento, a deterioração dos recursos hídricos, a redução das áreas estuarinas e a degradação e salinização dos solos.
O agravamento da situação social e ambiental de Pernambuco, na atualidade, decorre de um conjunto de fatores que se expressam na combinação de lento ritmo de crescimento econômico com alta concentração da terra, da renda e da riqueza geradas no Estado. Esta combinação perversa condena uma parcela significativa da população a condições de pobreza, limitando o acesso aos recursos naturais e produtivos e restringindo a dimensão do mercado estadual. Os elevados índices de desemprego estrutural (subemprego) reforçam esta condição de pobreza, pela incapacidade da população de se inserir no mercado de trabalho estadual, dificultado pelo baixo nível educacional e qualificação profissional e, mais recentemente, pela restruturação dos processos produtivos.
A situação econômica, por sua vez, apresenta problemas importantes associados à crise de alguns dos mais tradicionais complexos econômicos do Estado, como o sucro-alcooleiro e o pecuário-algodoeiro, ao mesmo tempo em que o conjunto das atividades novas ou mais dinâmicas não consegue acompanhar o ritmo de crescimento de bases produtivas instaladas em outros Estados do Nordeste, fazendo Pernambuco perder posição econômica no contexto regional, embora se mantenha, ainda, como a segunda maior economia desta Região brasileira (representava 25,6 % do PIB nordestino em 1970 e 17 %, hoje) e consiga manter, em torno de 3 %, seu peso na economia nacional.
Além disso, constata-se um forte hiato entre a distribuição da população e a base econômica no território pernambucano, estando a segunda muito mais fortemente concentrada que a primeira, especialmente a base agrícola (na Região da Mata) e a base urbana/industrial (na Região Metropolitana).
Acrescente-se, ainda, a esse quadro, a predominância de práticas tradicionais de gerenciamento das atividades produtivas, a reduzida articulação inter-empresarial, a evasão de capitais acumulados em Pernambuco para investimentos em outras áreas do País e a visão patrimonialista face ao Estado, dominante em parte significativa das elites locais
Estes estrangulamentos, decorrem, contudo, de um conjunto de fatores mais gerais e estruturais da base econômica, da estrutura social e do padrão tecnológico, em grande parte influenciados pela posição da economia pernambucana no contexto nacional, que se manifesta numa já crônica desvantagem competitiva do Estado. Pernambuco vem perdendo espaço na restruturação e reorganização da economia brasileira - em curso mesmo durante a fase de crise recente - ao mesmo tempo em que conserva as desigualdades sociais e a marginalidade que compromete a cidadania e o desenvolvimento estadual.
A concentração da renda e da riqueza e a desvantagem competitiva de Pernambuco têm raízes mais profundas nas bases sociais, econômicas e ambientais, das quais podem ser destacados os seguintes estrangulamentos:
Uma nova postura dos atores sociais e iniciativas inovadoras do empresariado vem convergindo para uma ação estratégica e articulada de desenvolvimento de Pernambuco. Merecem destaque a formulação da AGENDA PRÓ-PERNAMBUCO, a constituição da PERNAMBUCO S/A e algumas iniciativas recentes da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco - FIEPE, bem como a melhoria do padrão de qualidade e articulação dos movimentos sociais. Pernambuco acolhe numerosas ONGs, sendo um dos estados brasileiros onde essas instituições são mais atuantes.
A ação desses atores, junto como o Governo, apesar dos problemas e estrangulamentos já apresentados, tem base em algumas potencialidades significativas que permitem alavancar o desenvolvimento. Especialmente, nas condições geradas pelo novo paradigma de desenvolvimento que se afirma no contexto nacional e internacional, podem ser destacadas algumas das grandes potencialidades de Pernambuco :
Por outro lado, apesar de uma relativa limitação de recursos naturais que possam criar oportunidades diferenciadas de desenvolvimento, Pernambuco conta com uma disponibilidade razoável de alguns recursos, tais como: suas bacias hidrográficas; os microclimas; a beleza e o clima litorâneo; os recursos energéticos (biomassa, solar e eólica); e mesmo alguns recursos minerais (como gipsita, granitos e mármore).
Cabe ainda destacar, nos últimos anos, a elevação da consciência ecológica e o fortalecimento do movimento ambientalista em Pernambuco, ao lado de avanços significativos na legislação voltada à conservação do meio ambiente, base sobre a qual se pode assentar uma boa política ambiental, que compatibilize a conservação do meio ambiente com os requisitos de uma sociedade pobre e de muitos subempregados que demandam a ampliação da capacidade produtiva do Estado.
Esta combinação complexa de problemas e potencialidades, econômicos, ambientais, tecnológicas, espaciais e político-institucionais de Pernambuco, constitui o ponto de partida para a construção de um futuro onde o processo de desenvolvimento seja, de fato, sustentável.
Como referencial para a estratégia foi construído um cenário desejado como configuração de hipóteses sobre o comportamento de variáveis chave que definem graus diversos de transformação da realidade1.
Parte-se da idéia de que, dadas certas condições do contexto que condicionam os processos internos no Estado, o futuro de Pernambuco depende das suas próprias características, das energias sociais, da postura da sociedade diante dos desafios do presente e das perspectivas que se enunciam para as próximas décadas.
A globalização, a restruturação produtiva, a financeirização da riqueza, a revolução científico-tecnológica, a organização de grandes blocos de mercado, a crescente importância do conhecimento, da informação e da capacitação dos recursos humanos, como variáveis chave, são determinantes exógenos. Acrescente-se que o ambiente geopolítico, também, se reestrutura após o término da guerra fria.
Estas mudanças já exercem influência nos ambientes econômico, cultural, social e político do Brasil . A estratégia adotada pelas elites dirigentes para a inserção do País neste novo ambiente tem privilegiado atividades, segmentos e espaços dotados de maior competitividade. É uma estratégia muito seletiva, portadora de restritas oportunidades para espaços periféricos, como o de Pernambuco, possuidor de modestos 3% da economia nacional. Mas, existem, por outro lado, oportunidades que não podem ser perdidas, dentre elas destacam-se:
Supõe-se que seja provável esperar, portanto, que a partir de 1997-98 o Brasil registre taxas médias de crescimento de sua economia superiores às atuais. Diversas previsões convergem para taxas próximas a 5% a.a. (adotou-se aqui a hipótese de uma taxa de 4,7 a.a. entre 1995 e 1998, que coincide com as expectativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA). Para os anos finais deste Século e a primeira década do próximo, usou-se a hipótese de crescimento da economia brasileira em torno de 5.2% ao ano.
Este panorama leva à aceleração do crescimento da economia pernambucana, complementado por iniciativas e políticas de desenvolvimento concentradas nas áreas estratégicas e voltadas para a qualidade de vida população. Assim, se consegue reverter pontos de estrangulamento anteriores, rever conceitos e padrões culturais preexistentes, inclusive o consumismo tão marcante nos estratos sociais mais abastados, e aproveitar as novas oportunidades que poderão surgir nos próximos anos, utilizando melhor as potencialidades de Pernambuco.
Nestas condições, a economia pernambucana registra taxas de crescimento elevadas, resultado de maior integração externa com paralela dinamização do mercado estadual. O PIB pernambucano deve crescer em ritmo superior ao registrado pela economia nacional, alcançando 5,3% ao ano, na primeira cena, e 6% a.a. na segunda. Assim, a produção da economia estadual atingiria, em 2010, o montante de US$ 42 bilhões, valor quase 150% maior que o atual, que é de cerca de US$ 16,9 bilhões. Como resultado deste crescimento diferenciado, em relação à média brasileira, a participação de Pernambuco na economia nacional deve se elevar de 3% para de 3,36%, no ano 2010, podendo chegar a 3,10%, já em 1998 (ver indicadores representativos do cenário no Quadro I).
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VARIÁVEIS | |||
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Cresc. do PIB% (**) | |||
PIB (US$ bi.) | |||
PIBpe/PIBbr (%) | |||
População(milhões) | |||
PEA (milhões) | |||
Ocupações ( milhões ) | |||
Subemprego (%PEA) | |||
PIB per capita US$ | |||
Pobreza (milhões) | |||
Pobreza (% Pop.) | |||
Expec.de Vida (anos) | |||
Abast. d'água(% dom.) | |||
Analfabetismo (%) | |||
Pesquisador/milhão Habit. | |||
(*) Dados estimados para o ano-base, a partir de fontes diversas que trabalham com diferentes datas. | |||
(**) Ao contrário dos outros indicadores, que expressam a situação no final do período (1998 ou 2010), este indicador apresenta o comportamento médio nos períodos (1995-1998 e 1999-2010). |
O crescimento da economia pernambucana será refletido na geração de uma massa significativa de boas oportunidades de ocupação produtiva, absorvendo parcelas relevantes da PEA, incluindo segmentos atualmente em condição de subemprego. Combina-se, assim, crescimento do produto com razoável modernização tecnológica, refletindo taxas de crescimento médio anual da produtividade do trabalho de 6% a.a. (1995-1998) e 22% a.a. (1999-2010), de menor impacto no mercado de trabalho do que num cenário com intensa modernização.
Assim, até 1998, devem ser criadas 210.000 novas oportunidades de ingresso na vida produtiva, número superior ao dos novos ingressos na PEA (160.000), o que significaria enxugar o estoque de subemprego preexistente. No ano 2010 estariam ocupados em boas condições 2,5 milhões de pernambucanos, ou seja, 2/3 da PEA, o que representaria um aumento de cerca de 80% no número de ocupados nas atividades ditas formalizadas (atualmente tem-se 1,38 milhões). Com isso, o nível de subemprego também cairia, passando dos atuais quase 51%, para pouco menos de 1/3 (30,9%) da PEA.
Por outro lado, seriam implementadas políticas e iniciativas, públicas e privadas, voltadas para a melhoria das condições de vida da população, com investimentos na área social e no combate à pobreza. Como conseqüência, devem ser reduzidos, significativamente, os níveis de pobreza da população pernambucana, caindo dos atuais 2,3 milhões para cerca de 1,88 milhões, no ano 2010¸ representando, mesmo assim, 1/5 da população do Estado, no curto período 1995-1998, levando a pobreza a cair para 2,21 milhões (equivalente a 29% da população).
Com investimentos significativos em infra-estrutura social, também melhoram os indicadores sociais de expectativa de vida, abastecimento d'água e analfabetismo. Os sistemas de abastecimento d'água se ampliam dos atuais 55,1% dos domicílios, para cerca de 74%, até 2010, atendendo a 3 em cada 4 domicílios. No período 1995-1998, o abastecimento se eleva para pouco menos de 61%. Apesar dos avanços, Pernambuco atingiria, em 2010, uma situação ainda inferior a que se encontra, hoje, o estado do Paraná (com atendimento de 80% dos domicílios). Também na educação devem ser dados avanços importantes no Estado, como resultado de investimentos significativos na formação de jovens e adultos, de forma a reduzir o índice de analfabetismo para uma taxa que deverá ser, em 1998, metade da atual (16,5% da população) caindo para 11,5%, ao final da segunda cena (2010)2.
A conjunção de melhoria geral nas condições de vida da população, passando pelo emprego e acesso à renda e pela oferta de serviços de infra-estrutura social repercute, favoravelmente, na elevação da expectativa média de vida dos pernambucanos, devendo, passar de 55 anos para próximo de 58 anos, até 1998, podendo saltar para 60, no ano 2010, cinco anos adicionais ao índice atual que, não obstante, corresponde ao valor médio atual do Brasil (1989).
No meio ambiente, Pernambuco deve registrar pequenos impactos ambientais localizados e decrescentes no tempo, na medida em que se incorporam novas tecnologias e se reorientam os estilos de vida e hábitos de consumo da sociedade. Também deve ocorrer recuperação de alguns ambientes degradados, entre os quais o tratamento dos efluentes orgânicos, sólidos e líquidos dos centros urbanos. Esta melhoria das condições ambientais resulta, diretamente, da implementação de políticas de conservação e recuperação ambiental, aliada ao crescimento da consciência ambiental da população.
Pernambuco ainda registrará um importante avanço no terreno científico e tecnológico, tanto na ampliação da massa crítica de pesquisa e fortalecimento das instituições de pesquisa, quanto na orientação das pesquisas e desenvolvimento tecnológico para adaptação ambiental e elevação da produtividade nos segmentos de maior potencialidade no Estado. O aumento dos investimentos e a capacidade de absorção de recursos humanos levam a um crescimento do número total de pesquisadores, que deve atingir pouco menos de 4.300 pesquisadores no ano 2010 (cresceria cerca de 5,3% a.a., nos primeiros quatro anos e 6% a.a. entre 1999 e 2010). Este número ainda seria baixo para os padrões brasileiros, uma vez que representaria cerca de 510 pesquisadores por milhão de habitantes, inferior ao indicador brasileiro atual (600 pesquisadores por milhão de habitantes).
O cenário desejado apresenta o perfil do futuro que se pretende construir e para o qual deve ser orientada a estratégia de desenvolvimento de Pernambuco. Assim, os indicadores expressos neste cenário constituem metas a serem perseguidas pela estratégia. Desta forma, para a primeira fase da estratégia, que corresponde ao período do governo atual, as metas a serem atingidas são: crescimento econômico, 5,3% a.a.; emprego, 210 mil empregos novos; renda per capita, US$ 2.746; pobreza, redução de 2,3 milhões (32% da população) para 2,21 milhões de pessoas (29%); expectativa de vida, 58 anos; abastecimento d'água, 62% dos domicílios; taxa de analfabetos, 16,5% da população de 7 anos e mais; e pesquisador por milhão de habitantes, 280,5 (ver coluna correspondente a 1998).
Da mesma forma, para a segunda fase da estratégia, que vai de 1999 ao ano 2010, tem-se as seguintes metas: crescimento econômico, 6% a.a.; emprego, 900 mil empregos novos entre 1999 e 2010; renda per capita, US$ 5.000; pobreza, redução de 2,21 milhões (29% da população), em 1998, para 1,88 milhões de pessoas (22%); expectativa de vida, 60 anos; abastecimento d'água, 74% dos domicílios; taxa de analfabetos, 11,6% da população de 7 anos e mais; e pesquisador por milhão de habitantes, 510,7.
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