Documento não garante o futuro da sala,
diz cineasta
(31 de outubro de 1996)
O pronunciamento do grupo Severiano Ribeiro, que através da gerente Genemar dos Santos declarou não ter a intenção de fechar o São Luiz, não interrompe os estudos técnicos da Fundarpe para realizar o tombamento do cinema. A gerente, que até então não havia sido informada sobre a situação da sala, compareceu à reunião convocada por Raimundo Carrero, presidente da Fundarpe, terça feira passada. Apesar dela ter negado a desativação do cinema, Cláudio Assis, cineasta e presidente da Associação Brasileira de Documentaristas - PE, alertou que o texto apresentado não dava garantias de que o São Luiz continuaria funcionando. "E se depois do local revitalizado, decidir vender o São Luiz, inclusive mais valorizado?", questionou o cinesta.
Genemar se mostrou surpresa com os rumores de fechamento do cinema. Carrero explicou que a Fundarpe está se mobilizando para evitar que o São Luiz seja fechado sem o conhecimento do público, como aconteceu com o Moderno. Por isso, mesmo que não haja um tombamento imediato, a fundação procura meios de assegurar que sua parte interna seja preservada.
Ulisses Pernambucano de Mello, gerente de Tombamento da Fundarpe, comentou que a instituição já emitiu um parecer que considera possível o tombamento do cinema. Por outro lado, ele disse que a ação garante apenas que as características do prédio sejam mantidas, mas não assegura que o local continue funcionando como uma sala de exibição. Por isso, Ulisses Neto é favorável a proposta de uma ação conjunta envolvendo o governo, os proprietários do cinema e a sociedade. "Ás vezes, uma decisão amigável mesmo que seja o não tombamento, proporciona um resultado melhor para todos, inclusive para o patrimônio histórico", avaliou.
Cauteloso, Antonio Montenegro, um dos autores do manifesto Viva o Cinema São Luiz (publicado com exclusividade pelo JC) concorda com o ponto de vista de Ulisses Neto. Entretanto, o arquiteto lembra que daqui a alguns meses 20 salas de exibição serão inauguradas em shoppings na região metropolitana do Recife. "Em um ano, a realidade dos cinemas será outra. Pode ser que os novos cinemas esvaziem as casas do centro. Essa nova realidade pode fazer com o que o São Luiz deixe de ser lucrativo e, depois, fechado", preocupa-se.