Dos jornais: 1) Vão ser abertas no Recife, em breve, mais 18 cinemas de shoppings. 2) O Cinema Moderno será uma loja de eletrodomésticos.
O cinema São Luiz não merece acabar como todos os outros do centro da cidade.
Seja por sua localização privilegiadíssima (na Rua da Aurora, de frente para o Capibaribe, esplêndido em certos fins de tarde). Seja por seu foyer do têrreo (magistralmente integrado com a calçada e a rua). Seja pelo extraordinário mural de Lula Cardoso Ayres (ao mesmo tempo sóbrio e elegantemente alegórico do Recife e de sua maior expressão cultural, o carnaval).
Seja por sua arquitetura manifestamente eclética (com as aristocráticas ferragens douradas). Seja pelo espaçoso hall do primeiro andar (a cavaleiro do rio e da Ponte Duarte Coelho, verdadeira tela a exibir extraordinário e infinito filme). Seja pela sua imensa platéia, com balcão e tudo (para mais de mil lugares). Seja pelos dois vitrais simétricos e deslumbrantes (uma orgia de cores capaz de entreter mais do que alguns filmes). Seja pelo o que se vê na tela ou na platéia (áreas de interesse competindo entre si) Seja pelo inconfundível clima (cheiro mesmo) de expectativa e entretenimento. Seja, por fim, mas não menos importante, pelo fato de ser um pedaço de muitas histórias pessoais.
Por qualquer razão que seja, por alguma dessas, por todas, por outras, não é justo que o São Luiz vire uma loja ou uma igreja. Não é justo com o Recife, com seu povo, conosco.
Urge uma ação conjunta da Prefeitura do Recife, da Empresa Severiano Ribeiro, do Governo do Estado, da sociedade, nossa. O São Luiz não pode acabar.
ASSINATURAS
Antono Carlos Montenegro (arquiteto), Bruno Ribeiro (advogado), Francisco Carneiro da Cunha (consultor de empresas), Mônica Vasconcelos (arquiteta), Nelson Teles de Menezes (analistas de sistemas), Nilce Falcão (pediatra), Noé Sérgio do Rego Barros (arquiteto), Paulo Gustavo (escritor), Romero Pereira (arquiteto), Sérgio Miranda (geógrafo), Verônica Pereira (psicóloga).
Gerente do São Luiz nega o fechamento do cinema (Jornal do Commercio, quarta-feira, 30 de outubro de 1996)
O tombamento do cinema São Luiz foi discutido ontem, numa reunião convocada pelo presidente da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), Raimundo Carrero. O encontro, que terminou sem que muitas decisões concretas fossem tomadas, reuniu representantes da empresa Severiano Ribeiro - proprietária do cinema - , do projeto Viva o Cinema São Luiz e grupos interessados na preservação da sala. A proposta de tombamento foi adiada porque, pela primeira vez, a gerente da filial do grupo Severiano Ribeiro, Genemar dos Anjos, negou a intenção de fechar o cinema.
Ela entregou um comunicado oficial alegando que "são infundados os temores da sociedade". No texto, a gerente diz que a empresa espera um incremento das políticas públicas que possam melhorar as condições urbanas e de segurança no centro da cidade. A pedido de Genemar dos Anjos, Carrero prontificou-se a solicitar da Polícia Militar a volta do policiamento nos cinemas do centro. Em contrapartida, a gerente garantiu que o grupo vai estudar propostas para melhorar a programação exibida no mais antigo cinema do centro.
DESCASO - Presente à reunião, Lula Cardoso Ayres Filho,concordou com Genemar dos Anjos e afirmou que há um descaso dos poderes públicos em relação aos cinemas. Lula é proprietário do Instituto Cultural Lula Cardoso Ayres, que possui uma das maiores cinematecas do mundo, entidade que leva o nome do seu pai, artistas plástico que pintou o mural instalado no São Luiz.
Os autores do manifesto Viva o Cinema
São Luiz, Fernando Montenegro e Noé Sérgio, sugeriram ao presidente da
Fundarpe convidar para as próximas reuniões representantes da URB (Empresa
de Urbanização do Recife) e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, para
que outras decisões possam ser tomadas.
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