PERNAMBUCANOS DEFENDEM SÃO LUIZ

(17 de outubro de 1996)

O São Luiz é um cinema que já nasceu grandioso. Além do valor histórico que hoje lhe é atribuído, o prédio guarda histórias que marcam a cultura cinematográfica pernambucana. Sua inauguração, ocorrida em setembro de 1952, foi o principal evento daquele ano. O jornalista Caio Souza Leão, que na época escrevia sobre cultura para três jornais recifenses - Jornal do Commercio, Jornal Pequeno e Diário da Tarde - lembra que as pessoas mais importantes da cidade foram convidadas para a abertura oficial do cinema. "Foi uma noite de gala da qual participaram todas as autoridades", recorda. Celso Marconi, atual diretor do Museu da Imagem e do Som, comenta que lá também aconteceu o lançamento de O Canto do Mar, filme de Alberto Cavalcanti rodado no estado.

Além do luxo, Souza Leão ressalta o valor cultural da sala de exibição. "Lá passavam os melhores filmes. Era um local relevante para os fãs da Sétima Arte. O possível fechamento do São Luiz entristeceria a cidade", comenta o ex-jornalista. Outro famoso cronista daépoca, José de Souza Alencar - Alex -, afirma que o Recife perderia muito com o encerramento das sessões no cinema da Rua da Aurora. Na época da inauguração, Alex escrevia críticas de cinema no JC, usando o pseudônimo de Ralph. Para ele a estrutura do cinema precisa ser preservada. "Não posso imaginar a cidade do Recife sem o São Luiz", considera.

Alex comenta que a decoração do prédio foi mantida em segredo até a sua inauguração e que os florais laterais eram acesos antes da projeção para não incomodar os olhos quando luz incidisse na tela. "O rendilhado das paredes e o mural de Lula Cardoso Ayres, localizado na entrada, são riquezas artísticas que necessitam de preservação", defende o artista plástico Francisco Brennand. O ceramista era amigo do pintor Pedro Luiz Correia de Araújo, brasileiro radicado na França que foi convidado para fazer a decoração do cinema.

Segundo ele, os desenhos laterais foram inspirados na flor-de-lis, símbolo da realeza francesa. São tantos os luxos que envolvem a construção do São Luiz, que levam Alex a duvidar do seu possível fechamento. "Aquela sala foi planejada com muito cuidado. Não acredito que ela seja destruída. Até porque a rede de cinemas São Luiz leva o nome do patriarca do grupo, Luiz Severiano Ribeiro, e foi erguida em sua memória. Vender aquela sala, seria muita desconsideração dos filhos e netos", avalia Alex.

Enquanto a empresa não fornece informações oficiais sobre a venda do cinema, alguns arquitetos continuam trabalhando no projeto Viva o Cinema São Luiz, no qual defendem a melhoria das condições no centro da cidade para que a sala possa ser mais freqüentada. (D.M.B.)

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