Pedalando de Recife a Salvador

Fazemos aqui um breve relato do que se passou conosco em cada um dos 13 dias da viagem.

Veja também:

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Roteiro geral

mapa *** Veja também o roteiro gráfico ***

  1. Saída: Marco Zero, Recife (PE)
  2. De Recife a São José da Coroa Grande (PE)
  3. De São José a Japaratinga (AL)
  4. De Japaratinga a Barra de Santo Antônio (AL)
  5. De Barra de Santo Antônio a Lagoa Azeda (AL)
  6. De Lagoa Azeda a Pontal do Peba (AL)
  7. De Pontal do Peba a Penedo (AL)
  8. De Penedo a Pirambu (SE)
  9. De Pirambu a Mosqueiro (SE)
  10. De Mosqueiro a Coqueiro (~Mangue Seco - BA)
  11. De Coqueiro a Sítio do Conde (BA)
  12. De Sítio a Baixios (BA)
  13. De Baixios a Itacimirim (~Praia da Espera - BA)
  14. De Itacimirim a Salvador (BA).


Marco Zero Marco Zero

Jones e TP foram pedalando até a casa de Toni. Alf levou a gente até o Marco Zero numa Pampa (ou era Saveiro?). Silvio (srlm) estava lá e os pais de Toni apareceram depois. Dalvinha foi junto com Toni na frente da caminhonete, enquanto Jones e Tp equilibravam ---ou SE equilibravam?--- as bicicletas atrás.

... e nada da Rede Globo aparecer!


Do Recife a São José Marco Zero

*** Primeiro dia: sexta-feira, 18/fev/94 ***

Foi o dia mais puxado: 125 km. A saída foi no marco zero, bem cedo. Fizemos diversas paradas, para tomar água de côco, água mineral, descansar um pouco. A estrada litorânea está muito boa. A pista é nova e está quase toda duplicada do Cabo até a entrada de Suape. Depois disso, estrada normal. Quando andamos de bicicleta, notamos muito mais os detalhes da estrada. Diversas coisas que vimos com certeza passariam desapercebidas se estivéssemos de carro: o chão, o verde, os obtáculos na pista, as cidadezinhas, as pessoas, o vento, o céu...

Próximo à entrada de Barra do Sirinhaém o sol estava escaldante, Tp chiou. Descansamos um pouco antes de prosseguir, apareceu um pessoal bem legal, tiramos uma foto. Tivemos que convencer Tp que faltava pouco para chegar a Rio Formoso, onde planejáramos almoçar.

Em Rio Formoso, almoço bem na hora que a entrevista na TV Tribuna foi ao ar, mas a televisão estava no outro canal. O pessoal da mesa ao lado comentou que viu a gente na TV ontem (quinta-feira). O almoço foi muito bom, com uma cervejinha para acompanhar. Após um merecido descanso, prosseguimos pelo segundo subidão (Rio Formoso fica bem no meio deles). Dureza, mas o sol estava menos forte. No meio do caminho: surpresa! A distância diminuiu? Beleza!

Chegamos em São José ao entardecer, estava começando a escurecer, e a foto ficou ruim!...Tomando umas cervejinhas num bar na praia, fizemos amizade com um dono de um carro antigo, que nos chamou para tomarmos banho na casa dele. Fomos procurar um hotelzinho, mas o que achamos parecia mais um motel-estacionamento, o que fazer? No final conseguimos acampar no hospital da cidade, em construção.

Saímos para jantar pizza: tava ruim (mesmo!), mas com a fome que a gente estava, foi o jeito!


De São José a Japaratinga Maragogi

*** Segundo dia: 19/fev, sábado ***

De manhã: ê preguiça: saímos para tomar café na beira-mar, que vontade de ficar (cada gatinha)! Tomamos um caldo de cana: engraçado, a máquina era manual! De partida, finalmente? Que nada, o pneu de Toni furou ontem à noite. Fomos ao borracheiro. Agora sim, de volta à estrada. O joelho de Tp chiou um pouquinho, então o melhor foi não forçar o ritmo neste segundo dia...

Após arrumar o pneu da bicicleta de Toni, enfim pegamos a estrada (bem mais tarde do que havíamos planejado). Mas o dia anterior foi puxado, este dia prometia ser bem leve.

Chegamos em Maragogi com uma ótima média: 26 km/h. Paramos para curtir a praia: cervejinha, Reggae, mar... tinha também umas minas bonitas... que tranquilidade! Bom, para mim (Tp) foi jóia mesmo, pois já sabia que "sobrevivendo" ao primeiro dia (o mais puxado), com certeza não teria problema no resto do caminho... felicidade!

Mas o tempo passou, Queiroz foi embora, a fome pintou, e fomos almoçar. Pechincha legal: o prato dava pra dois, mas choramos um pouquinho e pagando um pouquinho mais veio um prato caprichadão: dava pra umas quatro (ou cinco) pessoas! Bom pra repor as energias!

De volta à estrada, buraqueira danada, mas o movimento era fraco (num sábado após o Carnaval), e conseguíamos facilmente desviar dos buracos. Paramos no Hotel Salinas para visitar a irmã de Dalvinha (como é mesmo o nome dela?). O hotel é uma beleza, com um rio passando bem no meio e chegando no mar. Um pequeno paraiso... só o preço é que é um pouco "perigoso". Legal a visita!

Já estávamos no meio da tarde, pelo jeito não iríamos muito longe. Mas escureceu quando estávamos bem perto de Japaratinga, que sufoco pedalar no escuro! Cidade muito simpática, tem uma pequena praça com uma televisão. Logo arrumamos um lugar para guardar as bikes, e resolvemos dormir na praia mesmo, que estava bem mais arejada.


De Japaratinga a Barra de Santo Antônio Boqueirão

*** Terceiro dia: 20/fev, domingo ***

Acordamos cedo (5:30h), na praia sob a luz do sol, nada como um banho de mar! Conversa legal com um velho pescador, café da manhã, saímos às 9:45, mas antes fomos consertar o pneu de Toni (felizmente era só a válvula!).

O asfalto da via litorânea (AL-101 norte) se afasta da praia a partir de Japaratinga, seguimos por uma estrada de terra à beira-mar. Essa é a situação ideal para um passeio de bike: estrada tranquila e muito agradável, com coqueiros.

A primeira parada, a poucos quilômetros de Japaratinga, foi na praia do Boqueirão. Uma água do mar imunda e um banho de bica (do tempo do império) mais nojento ainda!

Seguimos então em direção ao Pontal até o rio Manguaba, atravessamos de balsa para chegar em Porto de Pedras, cidade muito simpática. Seguimos pela estrada, agora de pedras (e mais adiante de asfalto) até Barra do Camaragibe, onde fizemos a travessia num barco de pescador.

Do outro lado do rio Camaragibe, na praia do Morro, não encontramos nenhum traço de civilização, não é possível chegar até ali de carro e nem de moto. A maré estava alta agora, seguimos por uma trilha de areia entre os coqueiros. Subimos o morro (subidão bão), Tp morreu, só que os urubus não perceberam!

Procuramos a estrada no meio de um canavial e ao tentar retornar em direção à praia, ficamos perdidos no meio da mata! Acabou a estrada. Sumiu!? Cadê o caminho? Descobrimos uma estrada um pouco (de terra, é claro) afastada do mar, parece que conseguimos nos orientar... opa, o que vemos? Mar à vista! Beleza, estamos na trilha certa! (Obs: no guia de praias, este trecho se chama "Carro quebrado").

Depois de uma loooonga estrada de barro (uns 7 km), muito sol, lama e poeira. Não é à toa que a praia neste trecho se chama "Carro quebrado"! Atravessamos de balsa o rio Santo Antônio, chegamos às 15:45h na Peixada da Rita, almoço finalmente (e cerveja, que ninguém é de ferro, além disso hoje é domingo)! Jones conheceu Natasha, uma menininha bem simpática! Só devolveu as luvas se ele deixasse que ela assinasse no seu capacete.

Dormimos ali mesmo, Dona Rita foi muito gentil conosco e permitiu que acampássemos ali. A dormida foi excelente, a menos de um estranho barulho no meio da noite. Jones ficou aperreado, mas logo descobriu que era apenas uns pescadores retornando do rio pelo cais, bem próximo de onde estávamos.


De Barra de Santo Antônio a Lagoa Azeda Mirante do Gunga

*** Quarto dia: 21/fev, segunda-feira ***

Acordamos bem cedo, às 5:30h. Tiramos fotos com Ritinha e seus irmãos (netos de Dona Rita). Às 6:25h já estávamos na estrada. Logo voltamos a encontrar a AL-101, que se aproxima novamente do mar perto de Barra de Santo Antônio. Um trecho plano e com asfalto novo, bem tranquilo para pedalar.

No caminho, paramos para tomar um caldo de cana. O curioso é que o vendedor tinha um cachorro que nunca se perdia: ele sabia como chegar a Maceió sozinho! Tomamos café às 8:00h em Riacho Doce e chegamos em Maceió às 9:20h. Aproveitamos para tomar água de côco em Pajuçara e também pegar dinheiro no Banco 24 Horas. Tp aproveitou para ligar para o amigo Alexandre, que mora em Maceió: a surpresa não foi só dele: recebeu a grande notícia de que Alba está grávida, o neném é para junho, durante a Copa! Infelizmente não poderemos passar na sua casa, temos que seguir viagem!

O vento e a estrada estavam bastante favoráveis e às 11:10h já estávamos na no posto na entrada da Praia do Francês. Encontramos muita gente curiosa, querendo saber de onde víamos e para onde íamos, foi muito legal, tinha até um cara (de carro) que já tinha feito o percurso Rio -> Recife de bike!

Perto de Barra de São Miguel, o pneu de Jones estourou, felizmente próximo a umposto. O sol estava bem forte, paramos na cidade para relaxar um pouco: banho de mar, chuveiro, cervejinha (de leve), camarão ao alho e óleo, e um bom almoço no Restaurante Beira Mar. Hoje a viagem estava rendendo bastante, já havíamos pedalado 77Km desde Barra de Santo Antônio, mas ainda não era hora de parar...

Seguimos às 15:25h, na direção sul, passando pela ponte sobre a lagoa próxima, a pelo mesmo percurso que Jones e Rogério fizeram no final do ano passado (de Maceió a Lagoa Azeda), enfrentamos o subidão (interminável!) até o Mirante do Gunga, mas a paisagem compensou o suor. Essa estrada é nova e é um imenso tobogã, haja subida! Mas nada como encontrar pelo caminho um riacho imundo!

Várias subidas e descidas adiante, chegamos a Lagoa Azeda. Jones já conhecia boa parte do pessoal, por sinal muito acoplhedor bessa pacata vila de pescadores. Depois de 104km, nada como uma cervejinha, um camarão e uam boa conversa.

Armamos a barraca no quintal da casa que os tios de Ademilton estavam construindo, de frente para o mar. A natureza é muito forte nesse lugar, longe da civilização. ã Noite acordei, e quando fui olhar o tempo, só via uma paisagem cinza, não havia iluminação (a lua já tinha se posto) suficiente para dar forma às coisas, muito interessante!


De Lagoa Azeda a Pontal do Peba Mirante do Gunga

*** Quinto dia: 22/fev, terça-feira *** (Lagoa Azeda a Peba)

Acordamos cedo e após o café da manhã no mercadinho em frente à praça, saímos às 7:45h. Próximo a Jequiá da Praia, paramos para tomar uma água de côco, qual não foi a surpresa: cada côco caprichado, teve um que encheu uma garrafa (750ml)! Paramos logo adiante (Posto J. Dalbo Ltda) para um banho e "melecação" de protetor solar, o pessoal foi acolhedor e o posto tem boa infra-estrutura!

A estrada, desde o Gunga, fica um pouco afastada do mar, mas em alguns trechos cria uns cenários tristes, terríveis! A 4km de Coruripe, tomamos um caldo de cana e decidimos não ir até o pontal, senão teríamos que dar uma volta muito grande para prosseguir.

Pouco depois do meio-dia, próximo à entrada de Miaí de Cima, sob um so, escaldante, cansados, famintos e sem água, estávamos "mortos". E o pior: segundo o Guia, não havia ponto de apoio tão perto! Mas passou um pessoal por ali que avisou que na praia tinha um restaurante. Ufa!

Miaí de Cima: praia de mar aberto e violento, linda, com vista para dois pontais: do Coruripe ao norte e do Peba (mais distante) ao sul. Comemos ëxageradamente muito". Conclusão: "Nós somos animais!"

Continuamos quando o sol estava mais baixo, paramos em Feliz Deserto, não tinha água: estava faltando energia. A salvação foi o Banho Publico, que fica debaixo da caixa d'água da cidade. Passamos depois no Recanto dos Pássaros (onde, entre outras coisas, encontramos ossos de baleia ENORMES): Biotônico Fontoura com Leite Moça foi a receita do dono para recuperar as energias. Foi com ele que descobrimos que o Pontal do Peba ficava bem próximo (a escala do mapa não corresponde à realidade!).

Fim de tarde: chegamos no Pontal do Peba, cujo acesso é feito pela praia, com larga faixa de areia, até ônibus passava! Dormimos na Pousada e Bar "O Samburá", propriedade de D. Francisca e Mané da Pipa. Só um pequeno problema: havia água mas não luz, assim tivemos que tomar banho "tcheco". Éramos os únicos hóspedes, isto aqui devia estar movimentado no Carnaval, que diferença!


De Pontal do Peba a Penedo Penedo

*** Sexto dia: 23/fev, quarta-feira ***

Logo que acordamos, desmontamos as bolsas das bikes e saímos às 8:00h pela praia do Peba (extensão: 20km) para conhecer a foz do rio São Francisco. Beleza: vento a favor. Muita areia: o cenário é de dunas, e o único acesso é pela praia, o que foi tranquilo, pois a maré estava baixa (era dia de lua cheia). Curtimos o cenário HORRÍVEL! NOJENTO! PODRE! do Pontal da Barra. Cuidado: nadar é perigoso, pois a correnteza é muito forte. O cenário parece o de um deserto. Encontramos um barco de pescadores e eles nos explicaram que o que se vê adiante não é a outra margem do rio, mas sim uma ilha! Deve ser um passeio e tanto continuar a viagem daqui mesmo, atravessando o rio num barco de pescador... mas nossos planos eram outros (por isso deixamos nossas bolsas no Pontal do Peba): voltaremos à estrada, pois pretendemos conhecer Penedo!

Voltando ao Pontal do Peba, que sufoco enfrentar o vento contrário, é como pedalar num imenso subidão! Almoçamos e saímos às 14:45h para pegar a estrada com destino a Penedo. A estrada é praticamente plana, passamos em Piaçabuçu, cidade simpática à beira do São Francisco, parece um porto perdido!

Corremos para chegarmos a Penedo a tempo de ver o por do sol sobre o Velho Chico. Que lugar mais feio! Ao chegar em Penedo, fomos procurar um lugar para ficar, e logo queriam saber sobre nossa viagem. Dormimos na Pensão Familiar de Dona Maria: barata, excelente ambiente, refeição de primeira!

De Penedo a Pirambu Pirambu

*** Sétimo dia: 24/02, quinta-feira ***

Às 7:00h, depois de uma excelente noite de sono, a melhor de toda a viagem, já estávamos tomando o delicioso café da manhã da pensão de D. Maria, que já nos chamava de "meus filhos". Arrumamos a bagagem e saímos da pensão sob vários votos de "boa sorte" e "vá com Deus". Resolvemos fazer um city tour por Penedo, lavar e lubrificar as bikes numa concessionária Volkswagen.

Só por volta das 11:00h é que estávamos do outro lado do velho Chico, Neópolis - cidade meio "sem graça" e que não se parece nem um pouco com a sua vizinha Penedo. Decidimos não almoçar, pois ainda estávamos digerindo uns sucos e umas broas que tínhamos comido numa padaria de Penedo, e seguimos por uma estrada próxima ao Chico e que nos deveria levar a Pirambu, nosso provável pernoite.

Às 13:00h paramos para um mergulho no Chico, um lanche, e um ligeiro descanso, afinal aquilo não era hora pra se tomar banho de sol. Seguimos pela estrada perguntando a um e a outro se o caminho era aquele mesmo. Como a "bomba" não funcionava, paramos num vilarejo chamado Ponta de Areia, nome que faz jus às suas ruas, areia pura! Consertamos o pneu de Toni e continuamos até Piranhas onde tínhamos duas opções: ir a Pirambu pela estrada, ou ir a Ponta dos Mangues, pegar a praia e ir pela areia até Pirambu, seguimos a sugestão de um morador e fomos pela praia, pois a maré estava baixando o que nos dava chance de chegar mais cedo a Pirambu. Tivemos que empurrar as bikes por um areal, atravessar um pedacinho de mangue e finalmente estávamos numa praia novamente, desde Peba que não víamos o mar! Já era tarde, mas era noite de lua cheia e, pelos nossos cálculos, apenas 30Km nos separavam de Pirambu.

Pedalamos 17Km de areia numa praia extensa, reta e com dunas ao fundo. Estávamos desorientados, pelo Guia tínhamos que ter atravessado um maceió e até aquele momento nada, 20:00h. Avistamos uma luz no areal, era um veículo que parecia sair do meio do nada, "será que tem uma vila aí atrás?". Seguimos, a pé, as marcas deixadas pelo carro; "pelo tipo de pneu deve ser um Niva, pode ser do Ibama.", não tinha nenhuma vila, apenas uma casa de bomba para puxar água de um maceió. Voltamos à praia onde tínhamos deixado as bikes e TP. Resolvemos pedalar até encontrar uma barra ou uma vila, atitude de desespero, afinal cada caramanhola só possuia uns "4 dedos" d'água, muito pouco para um pernoite.

Ao voltar a pedalar, vimos o carro vindo em nossa direção e o esperamos. Era realmente um Niva e do Ibama! Perguntamos a eles e estávamos a 8Km de Pirambu, o maceió era um riacho de nada e a localização de Pirambu, no Guia, está errada. Chegamos às 21:00h ao Hotel Pirambu. Gripe geral, fome, cansaço e mais alguma coisa. Lanchamos e cama...


De Pirambu a Mosqueiro Pirambu

*** Oitavo dia: 25/02, sexta-feira ***

Acordamos cedo, tomamos café no hotel e saímos para atravessar numa balsa que só passa um carro por vez. Às 11:00h estávamos do outro lado do Rio Japaratuba, na Ilha de Santa Luzia. Daí em diante seria praia até Aracaju, se a maré deixasse, pois tínhamos um pouco mais de uma hora com a maré baixa.

Passamos por baixo do porto de Sergipe e chegamos ao Hotel da Ilha. Pedimos à direção do hotel para passarmos por dentro, pois a maré estava subindo e não dava mais para pedalar pela areia. Seguimos por uma estrada de barro até Barra dos Coqueiros, lanchamos pastel com caldo-de-cana e pegamos a balsa para Aracaju. Passamos no Shopping Riomar Aracaju para comprar filme, óleo para corrente e iogurte porque ninguém é de ferro.

Seguimos pela litorânea, paramos em Areia Branca e chegamos em Mosqueiro às 18h30. Mosqueiro é uma cidade de pouca infra-estrutura para turistas como nós, e fica às margens dos rios Santa Maria e Vaza Barris, isso mesmo um encontro de rios na foz de ambos. Conversamos com uns moradores e conseguimos uma travessia às 4:30h da madruga para o outro lado dos rios, segundo os moradores "será construída uma estrada com uma balsa para o outro lado daqui a uns tempos.". Dormimos num bar.


De Mosqueiro a Mangue Seco Barca

*** Nono dia: 26/02, sábado ***

Às 4:30h fomos pontualmente acordados, arrumamos as bikes rapidamente e 10 minutos depois estávamos numa canoa no meio do rio, ou melhor dos rios. Chovia fino e o vento fazia um frio que nos fazia pensar e falar besteiras. Chegamos ao outro lado, estrada de barro recém aberta, cheia de mosquitos, raposas e fome! Pedalamos até que o barro tornou impossível o ato de pedalar, pois era de uma consistência que agarrava no pneu e travava tudo. Arrastamos as bikes até conseguirmos pedalar novamente. Às 7:00h encontramos o bom e velho asfalto que nos acompanharia até Ponta D'Angola na praia do Saco, onde deveríamos pegar um barco para Mangue Seco.

Na entrada para Caueiras paramos e tomamos um café precário: leite, bolacha, água, aveia e banana passa. Pedalamos por uma estrada de asfalto novinho até Ponta D'Angola. Esperamos uma barca para atravessar-nos até Mangue Seco. Um passeio de 50 minutos de barco por dentro do manguezal com garças voando de um lado pro outro.

Chegamos a Mangue Seco, fica às margens do rio Real. Empurramos as bikes até chegar à praia, a maré estava subindo e com certeza não iríamos muito longe, mesmo assim decidimos continuar pedalando. Como a maré subiu rápido entramos no areal em direção a uma vila chamada Coqueiros. Ela fica atrás do areal que acompanha a praia desde Mangue seco, com direito a coqueiros enterrados e tudo.

Depois de empurrar as bikes através do areal sob o sol das 14:00h chegamos a Coqueiros, onde se é recebido pelo cemitério que fica entre a praia e a vila, que se localiza às margens de um mangue. Conhecemos seu Humberto que tinha uma mercearia e que nos recebeu muito bem. Almoçamos e armamos a barraca e a rede de selva ao lado da casa/mercearia de seu Humberto. Tomamos pinga para comemorar e às 18:00h já estávamos deitados, tontos e prontos para dormir.


De Mangue Seco a Sítio do Conde Linha Verde

*** Décimo dia: 27/02, domingo ***

Tomamos café da manhã na casa de seu Humberto e saímos. Após empurrar as bikes por um areal que parecia interminável, seguimos pela praia. Uma alternativa seria seguir pela Linha Verde a partir de Costa Azul. Chegamos a Costa Azul depois de tomar chuva, muita chuva. A Linha Verde ficava a 12Km dali e como a maré estava baixa, decidimos continuar pela praia até o rio Itapicuru, onde atravessamos para Siribinha. O acesso aos barcos fica num resto de mangue e por isso só durante a maré baixa.

De Siribinha seguimos a Poças por uma estrada de barro. Almoçamos uma muqueca de camarão fantástica, e já percebemos o estilo de tempero dos baianos. Ao sair, percebemos os pneus de TP furados: 9 furos! Consertamos e decidimos pernoitar em Sítio. Pousada de Dona Dulce a beira mar foi um bom achado naquele dia de muita chuva. As roupas estavam úmidas, mas os sacos de dormir sem proteção ficaram molhados. Mas no balanço geral as mochilas aguentaram bem a chuvarada da manhã.


De Sítio do Conde a Baixios Linha Verde

*** Décimo-primeiro dia: 28/02, segunda-feira ***

Acordamos cedo, tomamos café da manhã na pousada. Saímos para Conde. Lá, lavamos e lubrificamos as bicicletas, secamos o resto das roupas que não secaram durante a noite e almoçamos lá mesmo. Encontramos uma churrascaria onde a pimenta estava presente em tudo, o velho costume baiano. Descansamos e caímos na estrada.

Depois do sobe e desce da Linha Verde chegamos a Baixio - possui excelente infra-estrutura para campistas, com banheiros, chuveiros e área para as barracas.

Improvisamos um café numa lanchonete e íamos dormir na barraca, mas fomos gentilmente recebidos pelos donos dos bares que nos convidaram para dormir neles, nos bares.

Tomamos cerveja e conversamos até tarde sobre lendas e assombrações como a noiva de branco que leva os homens para o mar e os deixa morrer afogados. Dormimos no bar Cantuá e Armação, o qual Jorge Cley tomava conta durante a semana, quando o proprietário voltava para Palame.


De Baixios a Praia da Espera Praia do Forte

*** Décimo-segundo dia: 01/03, terça-feira ***

Acordamos com o sol, arrumamos tudo e saímos para tomar café no Palame. O café da manhã foi improvisado mas decente: leite-de-vaca, ovos, pão, bolachas, café, banana, aveia, farinha láctea e os biscoitos de "passarinho" de TP. Saímos do Palame para encarar novamente a montanha russa, Linha Verde.

Próxima parada: Imbassaí. TP se perdeu pela estrada errada, atravessou uma pontezinha de nada, mas encontrou Toni; cadê Joa? Fez o mesmo caminho! Mas tentando encontrar TP, que largou o esquecimento no rio junto com um burro e uns meninos.

Seguimos até a praia do Forte: completamente preparada para o turismo, não o do nosso estilo. Tomamos picolé e comemos cocada baiana numa barraca de uma senhora gentil, da qual não lembramos o nome. Não deu tempo para irmos ao castelo que pelos mapas é lá, mas que poucas pessoas sabiam como se chegava lá.

Terminava a Linha Verde e com ela o sobe e desce interminável. Seguimos pela Estrada do Côco que é sem acostamento mas praticamente plana e próxima à praia. Caiu o sol, paramos em Itacimirim. Andamos, no escuro, até a praia da Espera procurando um lugar para dormir, mas só possui casas de veraneio. Então dormimos na praia junto a umas barracas de palha que deviam ser bares nos finais de semana. Pouquíssima infra-estrutura!


De Praia da Espera a Salvador! Tip-Chegada

*** Décimo-terceiro dia: 02/03, quarta-feira ***

Acordamos com o sol, também dormindo na areia da praia! Arrumamos as coisas e fomos à vila de Itacimirim do outro lado da Estrada do Côco para tomar café, encher o pneu de TP e tentar ligar pra casa.

Pegamos a estrada e então percebemos que chegaríamos a Salvador naquele dia, "pôxa, vai acabar!". Seguimos até Arembepe, onde existe uma base do projeto Tamar, um povo simpático e uma vila hippie que é banhada por um rio "horrível, nojento" pra não dizer o contrário. A vila hippie não possui acesso de carro e as casas são construídas por eles próprios. A vila chama-se Aldeia de Caratingui e o rio, Capivara.

Passeamos, tomamos banho de rio, tomamos um caldo-de-cana e pegamos a Estrada novamente.

Próxima parada: próximo à ponte sobre o rio Joanes. Telefonamos e descobrimos para onde deveríamos ir: Federação, bairro de Salvador. Pegamos uma pista dupla e seguimos pela orla. Paramos para almoçar e depois seguimos para Federação e então pela Paralela até Lagoa Verde, onde deveríamos ficar até sexta-feira. Chegamos! Mas a comemoração só aconteceu no dia seguinte, num bar, no Pelourinho.

Tiramos a quinta-feira para passear por Salvador. Marcamos as nossas passagens para sexta-feira a noite. Dormimos até tarde na sexta, saímos de bike e almoçamos na rodoviária. Pegamos o ônibus e 12 horas depois tínhamos percorrido todo o trecho que levamos 13 dias para completá-lo, mas sem a graça da viagem de bike. Chegamos às 7:00h do sábado ao Tip e resolvemos contar esta história para todo mundo que quiser ouvir e agora, ler e "clicar" num destes botões de mouse.