Estrela do Ciberespaço
Com faturamento de US$ 11,36 bilhões no último ano, um quadro funcional de 23 mil pessoas e presença em mais de 55 países, a Microsoft mostra que não é por acaso o título de líder mundial em desenvolvimento de software. Um dos "segredos" para manter a posição entre as favoritas do ranking mundial é investir pesado em novas descobertas . Por isso, 15% do lucro da empresa têm destino certo: são direcionados à pesquisa e desenvolvimento.

No Brasil, a subsidiária deste império tem oito anos de existência e já demonstrou que segue à risca os ensinamentos da "grande mãe". Na família Microsoft Corporation, ela é a décima em faturamento e possui cerca de 150 funcionários. A sede fica na "capital brasileira dos grandes negócios" - São Paulo, mas já existem escritórios no Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. Em entrevista ao Enterprise News, o diretor geral da Microsoft Brasil, Mauro Muratorio Not, fala das perspectivas para o mercado brasileiro de informática, quais os possíveis impactos das novas medidas econômicas sobre o setor, a importância dos pequenos empreendedores para o reinado da Microsoft e a necessidade da "saudável paranóia" para sobreviver neste mundo globalizado.

Enterprise News - Como o senhor analisa a atual situação da informática no Brasil?

Muratorio - O Brasil conseguiu recuperar parte do atraso ocorrido durante o período de reserva de mercado. Os principais players internacionais estão todos atuando no Brasil. Hoje, as grandes empresas já utilizam a tecnologia como diferencial de mercado. O próximo desafio e (é) estender os benefícios da informática às pequenas e médias empresas. A Microsoft criou alguns programas, como o MOLP (Microsoft Open License Program) para facilitar a aquisição de software pelas pequenas empresas.

E.News - O Brasil tem condições de disputar a liderança do mercado mundial nesse setor?

Muratorio - Na área de software as melhores alternativas são no segmento vertical: soluções feitas especificamente para o mercado brasileiro. As áreas de Internet e de comércio eletrônico, relativamente novas, também podem ser bem ocupadas por empresas brasileiras. Nas áreas mais tradicionais, de aplicativos e sistemas operacionais, a concorrência com as empresas internacionais torna mais difícil as chances de sucesso. O melhor mesmo é investir em soluções específicas para o mercado brasileiro, que não são atraentes para as empresas com atuação internacional.

E.News - Quais iniciativas o senhor considera indispensáveis para tornar o país competitivo no mercado mundial?

Muratorio - O Brasil precisa parar de taxar a produtividade das empresas. A carga fiscal sobre os insumos tecnológicos é muito grande e isso impede as empresas de adotar com maior vigor a informatização. A informática é um dos grandes diferenciais de concorrência entre as empresas. É preciso criar programas que estimulem a adoção da tecnologia em empresas de todos os tamanhos.

E.News - As novas medidas econômicas, adotadas pelo governo Federal, representam um entrave para o desenvolvimento tecnológico e de produção de software no país?

Muratorio - Ainda é cedo para dimensionar os impactos das últimas decisões na área econômica. As empresas que quiserem permanecer competitivas não têm outra saída a não ser informatizar seus controles e procedimentos, enxugando gastos em outras áreas com o uso intensivo da informática. Mas, é inegável que as últimas decisões na área econômica devem frear o crescimento do país.

E.News - Estas medidas alteram a política de produção adotada pela Microsoft?

Muratorio - Nossos planos para o mercado brasileiro continuam inalterados. O Brasil é um dos quatro países prioritários para a Microsoft Corporation e pretendemos continuar investindo no país. Hoje a Microsoft está presente, com escritórios em São Paulo - onde se localiza a sede da empresa - além das cidades do Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. Nosso cronograma de investimentos no Brasil não será alterado a curto prazo.

E.News - Qual a importância das pequenas empresas no processo de desenvolvimento tecnológico?

Muratorio - A presença das pequenas empresas, principalmente na área de integração, é fundamental. Hoje, por exemplo, a Microsoft Brasil possui uma lista de quase 400 empresas de tecnologia que atuam como prestadoras de serviço. Elas estão credenciadas na nossa plataforma tecnológica, os chamados Solution Providers. Sem a existência dessas empresas a Microsoft simplesmente não teria como chegar aos seus clientes.

E.News - O surgimento de um grande número de novos empreendedores compromete o mercado, podendo ocasionar um inchamento no setor?

Muratorio - No segmento de tecnologia as coisas costumam andar de forma muita rápida: três meses equivalem a um ano. Quando há concorrência as coisas costumam andar em uma velocidade ainda maior. Portanto, quanto mais concorrentes melhor para o consumidor.

E.News - A Microsoft é líder na fabricação de software e contrata os serviços de pequenas empresas. Como acontece este processo? Estes novos empreendedores são fundamentais para a conquista e permanência da Microsoft na liderança mundial do mercado de software?

Muratorio - Este é o nosso modelo de negócios. A Microsoft quer se concentrar no desenvolvimento e marketing de programas mais horizontais, terceirizando algumas atividades importantes como treinamento, suporte técnico, consultoria e desenvolvimento de soluções verticais. É esse modelo que garante agilidade e capilaridade no atendimento aos nossos clientes.

E.News - " Só os paranóicos sobrevivem", disse Andy Grove, referindo-se ao processo de globalização. Neste contexto, a Microsoft está preparada e inserida para enfrentar outras empresas do setor como a Netscape, por exemplo? Como o senhor analisa a globalização, ou a aldeia global de Mcluhan?

Muratorio - O investimento sério em atividades de pesquisa e desenvolvimento, aliado à uma visão de como será o mercado, são a maior garantia de que uma empresa irá sobreviver ao longo dos anos. Mas, não existe a empresa imortal. A paranóia é uma das fórmulas para tentar prolongar a vida de uma organização. A Microsoft está preparada para competir com empresas como Oracle, Sun, Netscape, IBM e outras, pois investe pesadamente em desenvolvimento de novos produtos e possui a melhor "visão"de como a informática está mudando a vida de indivíduos e empresas. Há dois anos as pessoas consideravam a Microsoft como carta fora do baralho na área de Internet. Hoje, a opinião é oposta. Apesar de estarmos presentes em mais de 55 paises e possuirmos uma equipe de 23 mil pessoas, somos uma empresa extremamente ágil e usamos intensamente a tecnologia como ferramenta de produtividade. Com a globalização da economia os mercados tornaram-se mais unidos e interligados. A globalização é um fenômeno irreversível. Através do uso intensivo da tecnologia é possível oferecer produtos e serviços em qualquer parte da Terra. Portanto, não se trata de questionar a existência da globalização. Ela já é uma realidade. Quem não se adaptar a ela vai simplesmente fechar as portas.