BNDES: dinheiro de sobra para a exportação
Se a baixa produção de software houses nacionais para a exportação está atrelada a falta de recursos financeiros, o discurso vai ter que mudar. Pelo menos na ótica do BNDES, que desde o final do ano passado lançou uma linha de financiamento com recursos n a ordem de R$ 30 milhões para o setor. Até agora, a demanda tem sido abaixo da expectativa. Apenas seis empresas apresentaram planos de negócio. Mesmo assim, sabendo da importância do financiamento, o BNDES resolveu ampliar o prazo para a concessão dos re cursos de junho deste ano até 1999. Acompanhe a entrevista do gerente de operações de software do BNDES, Eduardo Castello Branco, que detalha ao Enterprise News, as novidades desta parceria com a SOFTEX (Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software).

Enterprise News - Como funciona o fundo específico do BNDES destinado as empresas brasileiras interessadas na exportação de software?

Castello Branco - Ele inova em diversos aspectos. O BNDES, embora tenha o risco do crédito, divide a análise com uma outra instituição, no caso a SOFTEX. As garantias do financiamento são totalmente fora do convencional, especialmente a cau ção de ações, cujo valor dependerá, fundamentalmente, do sucesso do negócio. A remuneração do banco é variável. Normalmente, tem-se uma taxa de juros fixa (no caso usual do BNDES TJLP + spread) e neste financiamento temos atualização do saldo devedor pe lo IGP-M. A concessão da linha de crédito pelo BNDES depende do sucesso do empreendimento.

E. N. - E a relação BNDES/Empresa , como acontece?

C. B. - O BNDES que, tradicionalmente usa a rede de bancos agentes para conceder financiamentos de menor porte, neste caso, age diretamente com a empresa. Estamos praticando uma lógica de carteira, ou seja: esperamos que bons resultados com algumas empresas compensem resultados piores que possam surgir com outras, deixando um resultado líquido da carteira de financiamentos superior a um financiamento convencional do BNDES. Busca-se fazer um volume tal de linhas de crédito que, efetivamente, contribuam para o crescimento de um número expressivo de pequenas e médias empresas desenvolvedoras de software, seja com vendas no mercado interno e/ou externo.

E. N. - Quem pode participar?

C. B. - Empresas desenvolvedoras de software, com faturamento, no ano anterior ao pedido, igual ou inferior a R$ 20 milhões e que tenham seus planos de negócios aprovados pela SOFTEX. Estes planos devem evidenciar que a empresa, em até 30 me ses, tem reais condições de comercializar produtos e/ou serviços no exterior.

E. N. - Quantas empresas procuraram o financiamento?

C. B. - Até o momento, seis apresentaram seus planos. Levantamento dos Núcleos SOFTEX indica que, até o final do ano, o número deve subir para 80. Atualmente, o setor de infra-estrutura é o que tem grandes projetos em andamento.

E. N. - O número foi reduzido? porquê?

C. B. - Acho que as pequenas e médias empresas de tecnologia são mais jovens, estão mais focadas em desenvolver e vender; têm pouca gente que conheça o negócio como um todo; apresentam uma gestão mais voltada para resultados de curto/médio p razos e não têm desenvolvido mecanismos de financiamento adequados para seu crescimento. Assim, preparar planos de negócios e planejar a longo prazo é uma mudança cultural significativa e que não se dé em tão pouco tempo. Muitas empresas têm também uma v isão de mecanismos financeiros governamentais equivocada - pensam em fundo perdido ou dinheiro barato - neste caso, trabalhamos numa operação bem diferente, o que siginfica que: se a empresa for bem sucedida, ela pode pagar mais caro do que um financiamento convencional do BNDES. Algumas empresas ainda estão avaliando o mecanismo de remuneração.

E. N. - Mas os empreendedores reclamam que é difícil produzir para exportar….

C. B. - Acho que em parte é verdade, mas acredito que o motivo principal é que muitos ainda resistem a ir para o mercado externo. O problema maior é cultural, de atuação voltada para dentro, que leva tempo para mudar.

E. N. - O Brasil, em relação aos outros países, busca incentivos no setor ou os empreendedores são ainda "muito tímidos" ?

C. B. - Acho que estamos passando por grandes transformações e que levam tempo. Destaco a abertura da economia, mais exposição ao exterior, grandes investimentos em infra-estrutura, privatizações, diminuição expressiva do mercado de capitais , padrão empresarial, profissionalização de gestão. Acho que a sociedade e todos os agentes econômicos vivem um processo de profundas mudanças culturais. Embora tenhamos necessidade de respostas mais rápidas, nem sempre isto é possível porque falta amadu recimento para tanto.

Informações detalhadas da linha de financiamento do BNDES podem ser econtradas: Nos sites do BNDES http:// www.bndes.gov.br e da SOFTEX http://www.softex.br