
As Aventuras de um Empreendedor
Enfrentar desafios. Esta frase tem sido a bússola na vida do navegador e economista paulista, 42 anos, Amyr Klink. O seu espírito aventureiro já lhe rendeu viagens de moto até a Patagônia, escalada à Cordilheira dos Andes, percorrer mais de dois mil quilômetros num pequeno barco a motor, na Amazônia e outros roteiros, com apenas 19 anos de idade. Mas, tudo isso foi o que ele chama de preparação para sua primeira grande façanha: a travessia do Atlântico Sul a Remo em Solitário, em 1984, e que deu origem ao livro "Cem dias entre céu e mar".
Ao todo, são quatro obras, consideradas "best-sellers", que contam as aventuras e descobertas desse navegador e defensor do espírito empreendedor, inerente a cada ser humano. E é exatamente o verbo empreender que ele mais gosta de conjugar em suas inúmeras palestras para empresas, escolas, universidades e instituições espalhadas por todo o país.
Em entrevista ao jornal Enterprise News - antes de uma de suas palestras, no Recife - Amyr fala sobre a importância do empreendedorismo, o avanço dos países escandinavos que preparam suas crianças para serem empresários de sucesso e suas expectativas em relação ao Brasil.
Enterprise News - Como o senhor analisa o processo de globalização econômica?
Amyr Klink - Alguns países estavam se preparando, há anos, para a chamada globalização econômica, fundamentada na Revolução da Informação. Outros, por sua vez, não deram muita importância e agora estão tendo que tomar decisões rápidas porque não há mais tempo a perder. A consciência da necessidade de mudança já existe em boa parte do globo terrestre, mas a prática ainda deixa muito a desejar. É muito difícil mudar pessoas. Por isso, a única coisa que posso afirmar é que, em um futuro muito breve, a divisão do mundo será feita em dois blocos: países informados e países desinformados. Eu continuo torcendo para que o Brasil faça parte do primeiro bloco.
E.N - Diante desse contexto, qual a importância do empreendedorismo?
A.K - É vital. Por isso, o ato de empreender deve ser disseminado desde cedo. Por exemplo, nos países escandinavos, os mini-empresários são formados ainda crianças. Eles vão para a escola para aprender a construir uma casa e gerenciar esta casa. Aprendem a tomar decisões sozinhos, a criar alternativas e, quando adultos, tem todas as chances de serem um sucesso em qualquer atividade que venham a desempenhar. Até mesmo os movimentos sindicais já estão se apercebendo de que a luta não é por mais direitos, mais benefícios para o empregado. A batalha, agora, é por melhores oportunidades dentro da empresa, chances para o funcionário agir, decidir e contribuir para o fortalecimento do grupo no qual trabalha.
E.N - De onde deve partir o estímulo para o surgimento de novos empreendedores?
A.K - Vejo a escola como a base de tudo. Atualmente, informática e matemática são linguagens universais; quem não as conhece está fadado ao fracasso. O ensino básico precisa estar alicerçado na formação de líderes, empreendedores. Ninguém quer ser subjulgado. Todo ser humano tem potencial empreendedor, o que se faz necessário é estímulo para desenvolvê-lo.
E.N - Mas, o senhor concorda que colocar a escola como a base de mudanças tão importantes é um processo complicado no Brasil, já que a população apresenta um considerável índice de analfabetismo e as escolas ainda não têm as condições estruturais e técnicas necessárias para preparar cidadãos capacitados a enfrentar esta nova realidade sócio-econômica?
A.K - Devo concordar que temos muito a evoluir no sistema educacional. Mas, não posso deixar de enfatizar que levamos uma enorme vantagem. Nós, brasileiros, adoramos aprender. Se você disponibiliza um curso na sua empresa, não faltam funcionários sedentos pelo aprendizado. Além disso, o nosso povo está sempre pronto a enfrentar desafios e se adapta muito bem as mudanças. Enquanto os europeus vivem em uma estabilidade completa e qualquer ameaça de mudança soa como uma bomba em suas vidas; nós costumamos "dançar conforme a música".
E.N - O senhor, atualmente, é empresário, escritor, economista e navegador. Em resumo, um empreendedor de sucesso que chega a faturar anualmente mais de US$ 3 milhões com trabalhos de aplicação prática de equipamentos náuticos, palestras e livros. Como todas essas atividades estão relacionadas?
A.K - Não são os números que me atraem. Na realidade, tudo começou pela necessidade básica de viabilizar os meus projetos de navegação. Fui obrigado a criar, há 13 anos, a Amyr Klink Planejamento e Pesquisa para poder usufruir de maior autonomia na escolha de equipamentos e patrocinadores. A empresa funciona com cerca de 30 funcionários. Nela, desenvolvemos as embarcações necessárias para cada viagem que planejo e, também, realizamos outros projetos. Apesar de não desejarmos viver financeiramente do estaleiro, já temos encomendas até 2005. As palestras, assim como os livros, são produtos do dia-dia e das viagens. As experiências são muitas e todas, fantásticas.
E.N - A que o senhor atribui o seu sucesso como empreendedor?
A.K - Infinita força de vontade, aliada a enorme determinação e uma equipe que tem espírito empreendedor à flor da pele.
Expedição Ford - Registro de faróis da Costa Brasileira - 1992